terça-feira, 31 de janeiro de 2012

54° Catequese

"Virgem Mãe, filha do teu Filho
a mais humilde e sublime dentre todas as criaturas,
termo pré-fixado de eterno desígnio

O Hino à Virgem, de Dante, coincide com a exaltação do ser, com a derradeira tensão por parte da consciência do homem que está na presença da “realidade” - que não nasce por si mesma, mas que é feita por um focus inefável: na verdade, a realidade é criada.
É o drama supremo - que o Ser peça para ser reconhecido pelo homem. Este é o drama da liberdade que o eu deve viver: a adesão ao fato de que o eu deve ser continuamente exaltado por um renascimento do real, por uma re-criação que comoveu-se ante o Infinito, na figura de Nossa Senhora. A figura de Nossa Senhora é o constituir-se da personalidade cristã.
O princípio fundamental do cristianismo é a liberdade, que é a única tradução da dimensão infinita do homem. Tal dimensão infinita descobre-se numa finitude que o homem experimenta.
A liberdade do homem é a salvação do homem. Ora, a salvação é o Mistério de Deus que se comunica ao homem. Nossa Senhora respeitou totalmente a liberdade de Deus, salvou essa liberdade; obedeceu a Deus porque respeitou a divina liberdade, não lhe opôs um método seu. Aqui está a primeira revelação de Deus.

O Ser é co-estensivo ao comunicar-se total de si mesmo, o Ser chega a tocar tudo o que o circunda e para o qual foi feito, e é precisamente no seu comunicar-se total que isto (a co-extensão) acontece e se realiza, alcança-te. Por isso, a virgindade - “Virgem Mãe” - coincide com a natureza do ser real na fórmula da totalidade da sua revelação. A virgindade é o ser real. “Virgem Mãe”: virgem porque eterna. “Em teu ventre reacendeu-se o amor,/ por cujo calor na eterna paz...”. Por cujo calor... mas quem é o poeta que usa um termo tão concreto? É da virgindade eterna que surge a virgindade da maternidade. Assim, “Virgem Mãe” indica a modalidade eterna com que Deus comunica a Sua natureza. Virgem vem antes de mãe: virgem é segundo a natureza do Ser, o esplendor do Ser; mãe é o instrumento usado pelo Ser para se comunicar.
Virgem: não há nada de mais peremptória e definitivamente suscitado por Deus como criador de tudo do que a virgindade - sobre isso seria belo voltar a ler as passagens do Êxodo, do Deuteronômio, do Eclesiástico, de Isaías. A primeira quota do valor de um eu, da criação, de toda a coisa criada, o absoluto é a virgindade. A primeira característica em que o Ser se comunica é a virgindade. É o conceito de pureza absoluta, cuja conseqüência absolutamente vertiginosa é a maternidade. A virgindade é materna, é mãe da criação. A virgindade é maternidade. Está aqui a consistência expressa e realizada do Ser: a perfeição que tem como seu ponto luminoso a virgindade, o calor da virgindade, a riqueza da maternidade.
Nossa Senhora é o método que nos é necessário para uma familiaridade com Cristo. Ela é o instrumento que Deus usou para entrar no coração do homem. E Dante é o maior poeta da nossa estirpe, faz uma teologia de Maria como nenhum outro fez. Ou se sente o primeiro terceto de Dante crescer no coração ou ele torna-se uma pedra que esmaga. O Mistério do qual procede, no qual se mantém e no qual acabará a criação é Nossa Senhora. “Virgem Mãe, filha do teu Filho”. Esse verso indica o significado total da criação enquanto aceitável pelo homem, isto é, oferecido ao homem. Assim, no seio de Maria veio à tona o Espírito criador, a evidência do Espírito. (Dom Giussani)

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