sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

26° Catequese

"Uma vez alguém pediu a beata Madre Teresa para dizer qual seria, segundo ela, a primeira coisa a mudar na Igreja. A sua reposta foi: tu e eu!

Este pequeno episódio evidencia-nos duas coisas: por um lado, a Religiosa pretendeu dizer ao seu interlocutor que a Igreja não são apenas os outros, não é apenas a hierarquia, o Papa e os Bispos; a Igreja somos nós todos, os batizados. Por outro lado, Madre Teresa parte efetivamente do pressuposto de que há motivos para uma mudança. Há uma necessidade de mudança. Cada cristão e a comunidade dos crentes são chamados a uma contínua conversão.

E esta mudança, concretamente como se deve configurar? Trata-se aqui porventura de uma renovação parecida com a que realiza, por exemplo, um proprietário de casa mediante uma reestruturação ou a pintura do seu imóvel? Ou então trata-se de uma correção para retomar a rota e percorrer, de modo mais ágil e direto, um caminho? Certamente têm importância estes e outros aspectos. Mas, no caso da Igreja, o motivo fundamental da mudança é a missão apostólica dos discípulos e da própria Igreja.

De fato a Igreja deve verificar incessantemente a sua fidelidade a esta missão. Os três evangelhos sinópticos põem em evidência diversos aspectos do mandato da referida missão: esta assenta na experiência pessoal: "Vós sois testemunhas" (Lc 24, 48); exprime-se em relações: "Fazei discípulos de todos os povos" (Mt 28, 19); transmite uma mensagem universal: "Proclamai o Evangelho a toda a criatura" (Mc 16, 15). Mas, por causa das pretensões e condicionamentos do mundo, o testemunho fica muitas vezes ofuscado, são alienadas as relações e acaba relativizada a mensagem. Se, depois, a Igreja, como diz o Papa Paulo VI, "procura modelar-se em conformidade com o tipo proposto por Cristo, não poderá deixar de distinguir-se profundamente do ambiente humano, em que afinal vive ou do qual se aproxima" (Carta encíclica Ecclesiam suam, 58). Para cumprir a sua missão, ela deverá continuamente manter a distância do seu ambiente, deve por assim dizer "desmundanizar-se".

De fato, a missão da Igreja deriva do mistério de Deus uno e trino, do mistério do seu amor criador. Em Deus, não está apenas de algum modo presente o amor; mas Ele mesmo, por sua natureza, é amor. E o amor de Deus não quer estar isolado em si mesmo, mas difundir-se. Na encarnação e no sacrifício do Filho de Deus, o amor divino alcançou os homens de um modo particular. O Filho saiu da esfera do seu ser Deus, encarnou e fez-Se homem. Tudo isto não foi apenas para confirmar o mundo no seu ser terreno, tornando-se seu companheiro e deixando-o inteiramente assim como é; mas do evento cristológico faz parte o dado incompreensível de que há – como dizem os Padres da Igreja – um commercium, uma permuta entre Deus e os homens, na qual ambos, embora de modo totalmente diverso, dão e recebem qualquer coisa, fazem dom e recebem em dom. A fé cristã sabe que Deus situou o homem numa liberdade, que lhe permite verdadeiramente ser um parceiro e entrar numa permuta com Deus. Ao mesmo tempo o homem está bem ciente de que tal permuta só é possível graças à generosidade de Deus que aceita a pobreza do mendigo como riqueza, para tornar suportável o dom divino, que o homem não pode recambiar com nada de equivalente.

A própria Igreja fica-se a dever totalmente a esta permuta desigual. Não possui nada de autônomo diante d’Aquele que a fundou. Encontra o seu sentido exclusivamente no compromisso de ser instrumento da redenção, de permear o mundo com a palavra de Deus e de o transformar introduzindo-o na união de amor com Deus. A Igreja insere-se totalmente na atenção condescendente do Redentor pelos homens. Ela mesma está sempre em movimento, deve colocar-se continuamente ao serviço da missão que recebeu do Senhor. A Igreja deve abrir-se incessantemente às inquietações do mundo e dedicar-se a elas sem reservas, para continuar e tornar presente a permuta sagrada que teve início com a Encarnação.

Entretanto, no desenvolvimento histórico da Igreja manifesta-se também uma tendência contrária, ou seja, a de uma Igreja que se acomoda neste mundo, torna-se auto-suficiente e adapta-se aos critérios do mundo. Deste modo, dá uma importância maior, não ao seu chamamento à abertura, mas à organização e à institucionalização.

Para corresponder à sua verdadeira tarefa, a Igreja deve esforçar-se sem cessar por destacar-se da mundanidade do mundo. Assim fazendo, ela segue as palavras de Jesus: «Eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo» (Jo 17, 16). Em certo sentido, a história vem em ajuda da Igreja com as diversas épocas de secularização, que contribuíram de modo essencial para a sua purificação e reforma interior..." (Papa Bento XVI)

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