"Como cristãos, estamos convencidos de que a contribuição mais preciosa que podemos dar à causa da paz é aquela da oração. Por esse motivo, encontramo-nos hoje, como Igreja de Roma, juntamente com os peregrinos presentes na Urbe, na escuta da Palavra de Deus, para invocar com fé o dom da paz. O Senhor pode iluminar a nossa mente e os nossos corações e guiar-nos para sermos construtores da justiça e da reconciliação nas nossas realidades cotidianas e no mundo...
No trecho do profeta Zacarias que escutamos há pouco, ressoou um anúncio pleno de esperança e de luz (cf. Zc 9, 10). Deus promete a salvação, convida a "exultar grandemente”, porque essa salvação se está por concretizar. Fala-se de um rei: "Eis que vem a ti o teu rei, justo e vitorioso" (v. 9), mas aquele que é anunciado não é um rei que se apresenta com o poder humano, a força das armas; não é um rei que domina com o poder político e militar; é um rei manso, que reina com humildade e suavidade frente a Deus e aos homens, um rei diferente dos grandes soberanos do mundo: "Ele é simples e vem montado num jumento, no potro de uma jumenta", diz o Profeta (ibidem). Ele manifesta-se montando o animal do povo simples, pobre, em contraste com os carros de guerra dos exércitos dos poderosos da terra. Antes, é um rei que fará desaparecer esses carros, quebrará os arcos de batalha, anunciará a paz das nações (cf. v. 10).
Mas quem é esse rei de que fala o Profeta Zacarias? Andemos por um momento a Belém e escutemos novamente aquilo que o Anjo diz aos pastores que vigiavam à noite, guardando o próprio rebanho. O Anjo anuncia uma alegria que será de todo o povo, ligada a um pobre sinal: um menino envolto em faixas, colocado em uma manjedoura (cf. Lc 2,8-12). E a multidão celeste cata "Glória a Deus no mais alto dos céus e sobre a terra paz aos homens, que ele ama", aos homens de boa vontade (v. 14). O nascimento daquele menino, que é Jesus, traz um anúncio de paz para todo o mundo. Mas andemos também aos momentos finais da vida de Cristo, quando Ele entra em Jerusalém acolhido por uma multidão em festa. O anúncio do Profeta Zacarias do advento de um rei humilde e manso voltou à mente dos discípulos de Jesus de modo particular após os eventos da paixão, morte e ressurreição, do Mistério Pascal, quando retornaram com os olhos da fé àquele alegre ingresso do mestre na Cidade Santa. Ele monta um jumento, tomado emprestado (cf. Mt 21,2-7): não está sobre uma rica carruagem, não está em um cavalo como os grandes. Não entra em Jerusalém acompanhado de um poderoso exército de carros e cavaleiros. Ele é um rei pobre, o rei daqueles que são os pobres de Deus. No texto grego aparece o termo praeîs, que significa os mansos, os brandos; Jesus é o rei dos anawim, daqueles que têm o coração livre da ânsia do poder e riqueza material, da vontade e da busca de domínio sobre o outro. Jesus é o rei de quantos têm aquela liberdade interior que os torna capazes de superar a ganância, o egoísmo que está no mundo, e sabem que Deus somente é a sua riqueza. Jesus é rei pobre entre os pobres, brando entre aqueles que desejam ser brandos. Deste modo, Ele é o rei da paz, graças ao poder de Deus, que é o poder do bem, o poder do amor. É um rei que fará desaparecer os cavalos de batalha, que quebrará os arcos de guerra; um rei que realiza a paz sobre a Cruz, conjugando a terra e o céu e lançando uma ponte fraterna entre todos os homens. A Cruz é o novo arco da paz, sinal e instrumento de reconciliação, de perdão, de compreensão, sinal de que o amor é mais forte do que toda a violência e opressão, mais forte do que a morte: o mal se vence com o bem, com o amor.
É esse o novo reino de paz em que Cristo é o rei; e é um reino que se estende por toda a terra. O Profeta Zacarias anuncia esse rei manso, pacífico, e diz: dominará "de mar a mar e desde o rio até as extremidades da terra" (Zc 9,10). O reino que Cristo inaugura tem dimensões universais. O horizonte deste rei pobre, brando, não é aquele de um território, de um Estado, mas são os confins do mundo; para além de toda a barreira de raça, língua, cultura, Ele cria comunhão, cria unidade. E onde vemos realizar-se no hoje este anúncio? Na grande rede das comunidades eucarísticas que se estende sobre toda a terra ressurge a luminosa profecia de Zacarias. É um grande mosaico de comunidades, nas quais se torna presente o sacrifício de amor deste rei manso e pacífico; é o grande mosaico que constitui o "Reino de paz" de Jesus, de mar a mar e até os confins do mundo; é uma multidão de "ilhas da paz", que irradiam paz. Em todos os lugares, em cada realidade, cultura, das grandes cidades, com os seus palácios, até as pequenas cidades com suas humildes moradias, das poderosas catedrais às pequenas capelas, Ele vem, torna-se presente; e ao entrar em comunhão com Ele, também os homens são unidos entre si em um único corpo, superando divisões, rivalidades, rancores..." (Papa Bento XVI)
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