terça-feira, 31 de janeiro de 2012

29° Catequese

"A primeira leitura, tirada do Livro de Isaías, nos diz que Deus é um, é único; não existem outros deuses além do Senhor, e fala também do potente Ciro, imperador dos persas, e isto faz parte de um desígnio maior, que somente Deus conhece e leva adiante. Essa leitura nos dá um sentido teológico da história: os acontecimentos da época, o suceder-se de grandes potências estão sob o supremo domínio de Deus; nenhum poder terreno pode colocar-se no seu lugar. A teologia da história é um aspecto importante, essencial da nova evangelização, porque os homens do nosso tempo, depois da sequência de impérios totalitários do XX século, têm necessidade de reencontrar um olhar reflexivo sobre o mundo e sobre o tempo, um olhar verdadeiramente livre, pacíico, aquele olhar que o Concilio Vaticano II transmitiu nos seus Documentos, e que os meus Predecessores, o Servo de Deus Paulo VI e o Beato João Paulo II, ilustraram com o magistério deles.

A segunda leitura é o início da primeira carta aos Tessalonicenses, e já isto é muito sugestivo, porque se trata da leitura mais antiga que chega a nós do maior evangelizador de todos os tempos, o apóstolo Paulo. Ele nos diz antes de mais nada que não se evangeliza de maneira isolada, já que, também ele havia os seus colaboradores Silvano e Timóteo e muitos outros. E logo acrescenta uma outra coisa muito importante: que o anúncio dever ser precedido, acompanhado e seguido pela oração. Ele escreve de fato: “O nosso Evangelho, de fato, não se difunde entre vós somente por meio da palavra, mas também com a potência do Espirito Santo e com toda a certeza”. A evangelização, para ser eficaz tem necessidade da força do Espírito, que anima o anúncio e infunde em quem o leva a plena certeza da qual fala o Apóstolo. Esta palavra “certeza”, “plena certeza”, no original grego pleroforìa, é um vocábulo que não exprime tanto o aspecto subjetivo, psicólogico, mais sim a plenitude, a fidelidade, o ápice, neste caso, do anúncio de Cristo. Anúncio que, para ser completo e fiel, pede para vir acompanhado pelos sinais, pelos gestos, como a pregação de Jesus. Palavra, Espírito e certeza, assim compreendidas, são portanto inseparáveis e fazem com que a mensagem evangélica se difunda com eficácia.

Nos deteremos agora sobre o trecho do Evangelho. Se trata do texto sobre legitimidade do tributo que deve ser pago a César, que contém a célebre resposta de Jesus: “Dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Mas, antes de chegar a este ponto, existe uma passagem que pode ser referida a todos que têm a missão de evangelizar. De fato, os interlocutores de Jesus, discipulos dos fariseus e herodianos se voltam a Jesus com uma certa consideração dizendo: “Sabemos que dizes a verdade e ensinais o caminho de Deus segundo a verdade, sem te preocupares com ninguém". È exatamente esta afirmação, que neste caso, é movida pela hipocrisia, que deve atrair nossa atenção. Os discípulos dos fariseus e os herodianos não accreditam naquilo que dizem. O afirmam somente como uma captatio benevolentiae para serem ouvidos, mas o coração deles está bem longe daquela verdade, e mais, eles querem jogar Jesus em uma armadilha para poderem acusá-lo. Para nós, ao contrário, aquela expressão de Jesus é preciosa e verdadeira: Jesus, de fato, é verdadeiro e ensina o caminho de Deus segundo a verdade sem preocupar-se com ninguém. Ele mesmo é este “caminho de Deus”, que nós somos chamados a percorrer. Podemos citar aqui as palavras do mesmo Jesus, no Evangelho de João: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. È iluminante, a propósito, o comentário de Santo Agostinho: “Era necessário que Jesus dissesse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, porque, uma vez conhecido o caminho, faltava conhecer a meta. O caminho conduz à verdade, conduz à vida. E nós, onde vamos, senão com Ele? E por qual via caminharemos, se não através dEle?...
Uma breve reflexão também, sobre a questão central do tributo a César. Jesus responde com um surpreendente realismo político, ligado com o teocentrismo da tradição profética. O tributo a César deve ser pago porque a imagem sobre a moeda é a sua; mas o homem, cada homem, leva consigo uma outra imagem, aquela de Deus, e portanto é a Ele, e somente a Ele, que cada um é devedor da própria existência. Os Padres da Igreja, pegando o gancho do fato que Jesus faz referência à imagem do imperador impressa na moeda do tributo, interpretaram este passo à luz do conceito fundamental do homem imagem de Deus, contido no primeiro capítulo do Livro do Gênesis. Um autor anônimo escreve: “ A imagem de Deus não está impressa sobre o ouro, mas sobre o gênero humano. A moeda de César é de ouro, a de Deus é a humanidade. Portanto dê a tua riqueza material a César, mas reserves para a Deus a inocência única da tua consciência, onde Deus é contemplado. César, de fato, pediu a sua imagem sobre todas as moedas, ma Deus escolheu o homem, que Ele criou para refletir a sua glória”... (Papa Bento XVI)

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