terça-feira, 31 de janeiro de 2012

32° Catequese

"A liberdade do homem, sempre implicada pelo Mistério, tem como forma suprema e incontestável de expressão a coração. Por isto, a liberdade se coloca, segundo toda a sua verdadeira natureza, como pedido.
Conclui o precioso texto da liturgia ambrosiana: ‘Domine Deus, custodi hanc voluntatem cordis eorum’ (‘Senhor Deus, salva esta disposição do coração deles’).
A infidelidade sempre surge no nosso coração, mesmo diante das coisas mais belas e mais verdadeiras, nas quais, diante da humanidade de Deus e da simplicidade original do homem, o homem pode fraquejar por debilidade e preconceito mundano, como Judas e Pedro. Até mesmo a experiência pessoal da infidelidade que sempre surge, revelando a imperfeição de qualquer gesto humano, clama pela contínua memória de Cristo.
Ao grito desesperado do pastor Brand, no homônimo drama de Ibsen (‘Responde-me, ó Deus, na hora em que a morte me engole: não é, então, suficiente toda a vontade de um homem para conseguir uma só parcela de salvação?’), corresponde a humilde positividade de Santa Teresinha do Menino Jesus, que escreve: ‘Quando vivo a caridade, é somente Jesus que age em mim’.
Tudo isto significa que a liberdade do homem, sempre implicada pelo Mistério, tem como forma suprema e incontestável de expressão a oração. Por isto, a liberdade se coloca, segundo toda a sua verdadeira natureza, como pedido de adesão ao Ser, portanto, a Cristo.
Mesmo dentro da incapacidade, dentro da grande fragilidade do homem, está destinada a perdurar a afeição a Cristo.
Neste sentido, Cristo, Luz e Força para todo seguidor seu, é o reflexo adequado daquela palavra com a qual o Mistério aparece na sua relação última com a criatura, como misericórdia: Dives in misericordia. O mistério da misericórdia ultrapassa qualquer imagem humana de tranqüilidade ou de desespero; até o sentimento de perdão está dentro deste mistério de Cristo.
Este é o abraço último do Mistério, contra o qual o homem - até mesmo o mais distante e o mais perverso ou o mais obscuro, o mais tenebroso - não pode opor nada, não pode colocar objeção; pode abandoná-lo, mas abandonando a si mesmo e ao próprio bem. O Mistério como misericórdia continua a ser a última palavra mesmo sobre todas as possibilidades negativas da história.
Por isso, a existência se exprime, como último ideal, na mendicância. O verdadeiro protagonista da história é o mendicante: Cristo mendicante do coração do homem, e o coração do homem mendicante de Cristo.” (Mons. Luigi Giussani)
O protagonismo da vida que Cristo com sua cruz conquistou para nós, é a beleza da vida que rasga a história e implica sempre na adesão aquEle que tomou sobre Si nossas dores, angustias e misérias e nos trasportou para a verdadeira vida. A vida como dom de Deus é preciosa e vivê-la com intensidade é sempre um novo desafio. O que é a intensidade? É a disposição do coração do homem de sempre querer estar ligado aquEla Presença que dá sentido a tudo na vida.Por isso a gente mesmo cansado, triste, abatido, estressado, encontra forças para seguir no grande campo da vida com o coração desejoso de corresponder a quem nos chamou para viver esse drama cotidiano que se chama vida. A intensidade de vida sempre nos leva a humildade, pois quando nos sentimos tocados pelo Ser a todo instante temos uma postura de mendicantes, como nos diz Dom Giussani. Mendicantes do amor de Cristo; mendicantes de sua Presença; mendicantes dos fatores que constituem a vida de quem se deixou ferir pela Palavra de Deus.
Que a intensidade do viver levada á sério, nos guie por caminhos bem retos e planos, lá encontraremos abrigo no coração daquEle que certa vez nos disse: "Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve." (Mt 11, 28-30)

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