"A liturgia deste domingo nos propõe uma parábola que fala de um banquete nupcial ao qual muitos são convidados. A primeira leitura, tirada do Livro do Profeta Isaías, prepara esse tema, porque fala do banquete de Deus. É uma imagem – a do banquete – usada frequentemente nas Escrituras para indicar a alegria na comunhão e na abundância dos dons do Senhor, e deixa intuir algo da festa de Deus com a humanidade, como descreve Isaías: "O Senhor dos exércitos preparou para todos os povos, nesse monte, um banquete de carnes gordas, um festim de vinhos velhos, de carnes gordas e medulosas, de vinhos velhos purificados" (Is 25,6). O profeta acrescenta que a intenção de Deus é colocar fim na tristeza e na vergonha; deseja que todos os homens vivam felizes no amor por Ele e na comunhão recíproca; o seu projeto, portanto, é eliminar a morte para sempre, enxugar as lágrimas de todo o rosto, tirar o opróbrio que pesa sobre seu povo, como escutamos (vv. 7-8). Tudo isso suscita profunda gratidão e esperança: "Eis nosso Deus do qual esperamos nossa libertação. Congratulemo-nos, rejubilemo-nos por seu socorro" (v. 9).
Jesus, no Evangelho, diz-nos a resposta que é dada ao convite de Deus - representado por um rei - para participar deste seu banquete (cf. Mt 22,1-14). Os convidados são muitos, mas algo inesperado acontece: recusam-se a participar da festa, eles têm outras coisas para fazer; alguns mostram até desprezo pelo convite. Deus é generoso conosco, nos dá sua amizade, seus dons, sua alegria, mas muitas vezes nós não acolhemos as suas palavras, mostramos mais interesse por outras coisas, colocamos no primeiro lugar as nossas preocupações materiais, os nossos interesses. O convite do Rei encontra até reações hostis, agressivas. Mas isso não freia a sua generosidade. Ele não desanima e manda seus servos convidarem muitas outras pessoas. A rejeição dos primeiros convidados tem como efeito a extensão do convite a todos, também aos mais pobres, abandonados e negligenciados. Os servos reúnem todos aqueles que encontram, e a sala fica repleta: a bondade do rei não tem limites e a todos é dada a possibilidade de responder ao seu chamado. Mas há uma condição para permanecer nesse banquete de núpcias: colocar a veste nupcial. E, entrando na sala, o rei vê alguém que não quis usá-la, e, por isso, é expulso da festa. Gostaria de fazer uma pausa por um momento sobre esse ponto com uma pergunta: por que esse comensal aceitou o convite do rei, entrou na sala do banquete, a porta lhe foi aberta, mas não colocou a veste nupcial? O que é essa veste nupcial? Na Missa in Coena Domini deste ano fiz referência a um belo comentário de São Gregório Magno a essa parábola. Ele explica que aquele comensal respondeu ao convite de Deus para participar do seu banquete, tem, de certa forma, a fé que lhe abriu a porta da sala, mas lhe falta algo de essencial: a veste nupcial, que é a caridade, o amor. E São Gregório acrescenta: "Cada um de vós, portanto, que, na Igreja, tendes fé em Deus, já tomeis parte do banquete nupcial, mas não podeis afirmar ter a veste nupcial se não preservais a graça da Caridade" (Homilia 38, 9: PL 76, 1287). E esta veste está interligada simbolicamente por duas varas, uma acima da outra: o amor de Deus e o amor ao próximo (cf. ibid, 10:. PL 76,1288). Todos nós somos convidados a ser comensais do Senhor, a entrar com fé no seu banquete, mas devemos usar e preservar a veste nupcial, a caridade, viver um profundo amor por Deus e pelo próximo..." (Papa Bento)
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