"Se perguntássemos a Nossa Senhora como passou a se conceber, surpreendendo-se em ação depois do anúncio do anjo, ela teria usado palavras
semelhantes a essas de Dom Giussani: “Toda a personalidade de Nossa
Senhora resulta do momento em que lhe foi dito: ‘Ave Maria’, isto é,
quando percebeu aquele sinal, aquele chamamento. A partir do momento do anúncio, assumiu o seu lugar no universo perante a eternidade. Estabeleceu-se uma nascente totalmente nova de moralidade na sua vida.
Surgiu um sentimento profundo de si, misterioso: uma veneração de si
mesma, um sentido de grandeza semelhante apenas ao sentido do seu
nada no qual nunca pensara desse modo.
Quem de nós não gostaria de viver a vida toda dominado por esse
sentimento de si tão profundo e misterioso, por esse senso de grandeza
tanto quanto é consciente do próprio nada? E se tivéssemos dirigido a
mesma pergunta a André depois do encontro com Jesus, ele poderia olhar
para sua mulher e seus filhos para intuir o que estava acontecendo com
ele e que o havia preenchido de silêncio no caminho de volta: “E quando
voltaram, à noite, ao terminar do dia – repercorrendo o caminho, muito
provavelmente em silêncio, pois jamais haviam-se falado como naquele grande silêncio em que um Outro falava, em que Ele continuava a falar
e ecoar dentro deles –, e chegaram em casa, a esposa de André, ao vê-lo
lhe diz: ‘Mas o que você tem, André?’ e os filhinhos, surpresos, olhavam
para o pai: era ele, sim, era ele mesmo, mas era ‘mais’ ele, estava diferente. Era ele, mas era diferente. E quando – como já dissemos uma vez,
comovidos com uma imagem fácil de se pensar, por ser tão realística – ela
lhe perguntou: ‘O que houve?’, ele a abraçou, André abraçou sua esposa
e beijou seus filhos: era ele, mas nunca a havia abraçado assim! Era como
a aurora, ou o alvorecer, ou o crepúsculo de uma humanidade diferente,
de uma humanidade nova, de uma humanidade mais verdadeira. Como se
quase dissesse: ‘Finalmente!’, sem crer em seus próprios olhos. Mas era
evidente demais para que não acreditasse em seus olhos!Que intensidade humana! Quem não gostaria de sentir toda a vibra-
ção de uma humanidade tão nova, de poder abraçar sua mulher assim?
Que esposa não gostaria de se sentir abraçada assim? Não um discurso!
Sentir-se abraçada assim. Não o marido lhe repetindo o discurso correto, mas alguém que a leva a fazer a experiência do que lhe diz abra-
çando-a assim. E qual filho não gostaria de olhar seu pai quando tudo
já começa a decair pela lógica normal da vida, e dizer-lhe admirado: “é
ele, mas é mais ele agora do que quando era jovem..." (Mons. Carrón)
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