"No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus; e a Palavra era Deus. No princípio, estava ela com Deus. Tudo foi feito por ela e sem ela nada se fez de tudo que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la." (Jo 1, 1-5)
Sempre tive frio na barriga quando lia esse trecho da Sagrada Escritura. Um texto escrito nas minucias pelo Apóstolo João, referencia de toda a Teologia do Alto (Teologia que parte do dado revelado para chegar até as questões humanas, chamada também "Teologia da Águia", assim como a águia vê de cima para baixo as coisas, também o Teólogo do alto vê as pessoas e o mundo á partir do prisma divino)
O que João nos quer comunicar? O lógos, a Palavra, o Verbo que dá ação ao sujeito. Por esse motivo inicia o seu Evangelho dizendo:" No principio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus" (Jo1, 1) Sim, antes de todas as coisas a Palavra de Deus já existia, por ela tudo foi criado. Pela Palavra divina os Patriarcas obedeceram ao Senhor; pela Palavra os Profetas anunciaram; pela Palavra os corações foram libertos de seus pecados; pela Palavra, a vida entrou no mundo. Tudo é feito por ela e sem ela nada se faz.
Quando Deus pronuncia uma Palavra, algo de novo acontece. O salmista chega a dizer:"Uma palavra Deus falou, duas ouvi." (Sl 62, 12) Esta é a Palavra que ecoa na vida de quem se deixa conduzir por ela. Uma vida pautada pela Palavra é uma vida que se segue seu curso na normalidade, mesmo se vier as noites traiçoeiras o coração está firme, pois sabe que com Deus, a vida ganha um significado todo especial. Com Ele não andamos errantes, pelo contrário, andamos na certeza que caminhos para o bem. É triste perceber em muitas vida a ausência de Deus. Parece que se tem a concepção que a vida com Deus é uma vida fadigosa, uma vida limitada de liberdade, parece que Deus é o obstáculo que impede o ser humano de ser feliz. A consciência dominante em nossa sociedade de que temos um Deus inimigo do ser humano é latente. O homem moderno presa pela liberdade e sente-se ameaçado pelo Deus "ditador" dos cristãos. Mas pensemos bem. O que seria do pai de família se este mesmo não tivesse a chave de sua casa? O que seria do andarilho se não houvesse a sinalização para que ele chegue bem ao seu destino? O que seria do trabalhador se não houvesse trabalho? O que seria de nós sem Deus? Não teríamos a chave que abre a nossa vida, não teríamos o dedo que nos aponta o caminho certo, não teríamos o oficio que nos garante o pão de cada dia, enfim, não seríamos realizados plenamente, faltaria a essência da vida: a comunhão com aquEle que nos criou e nos quis para Si.
Em outra passagem do Evangelho, o próprio Jesus dizia aos seus: " Do que adianta ao homem ganha o mundo inteiro se este mesmo perder a sua vida?" (Mt 16, 24) A pessoa pode ser a mais influente do mundo, a mais rica e poderosa, mas se não tem Deus, sua riqueza é pobre. Por que? Porque lhe falta aquilo que dá subsistência a sua vida. O que seria do corpo se lhe faltasse algum membro? Pereceria, sofreria pela ausência do membro perdido. Assim é o homem, quando falta o Fator que o constitue ele não vive, vegeta. O filho pródigo é o exemplo fiel da decadência humana longe de Deus, o Pai misericordioso. Ele pede a herança ao Pai, automaticamente, mata o Pai (Só se pede herança quando alguém morre) e sai de casa, embrenhando-se nas aventuras, nas farras, na vida fácil. Faz do dinheiro o seu Deus. No fim de tudo perece, vira mendigo, encontra-se com a indigência e a sargeta, ineva até a comida dos porcos (ninguém inveja aquilo que é inferior) encontra-se na miséria total. Era rico, mas não tinha a riqueza da Presença do Pai. Quantas pessoas que tem muito, mas no fundo no fundo, são pobres. Carentes de carinho, de atenção, de bem querência. Quantas pessoas foram e são até hoje, engolidas pelo poder, pela fama, pelos holofotes. Quantas vidas sendo destruídas aos poucos! Falta-lhes o essêncial, falta-lhes Deus. A Palavra que dá significado a todas as coisas quando entra na história humana modifica tudo. O que era tido como perdido, reencontra-se. O que era pobre, torna-se rico. O que era torto, endireita-se. Somente a Palavra tem essa capacidade de dar ação reconstrutiva ao sujeito. Ela é a luz do mundo, Ela vence todas as trevas!
Essa Palavra, cara Brenda, como nos diz Bento XVI, foi abreviada. "Assim se lia: «Deus tornou breve a sua Palavra, Ele abreviou-a» (Is 10,23; Rom 9,28). Os Padres interpretavam num duplo sentido. O mesmo Filho é a Palavra, o Logos; a Palavra eterna fez-se pequena - tão pequena a ponto de caber numa manjedoura." (Homilia de Natal no ano de 2006)
A Palavra eterna coube numa manjedoura, que ela caiba em nosso coração também. Que o curral de Belém seja um desdobrar-se na história dos homens, e torne-se metáfora da nossa existência. A Palavra precisa do ambão do nosso coração, lá Ela precisa ser acolhida, vivenciada, e amada.
Que a Palavra te conduza pelas estradas da vida, sendo chave, condutor, e certeza de felicidade! Amém!
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