terça-feira, 31 de janeiro de 2012

48° Catequese

Drão!
O amor da gente
É como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela estrada escura...
Drão!
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Cama de tatame
Pela vida afora
Drão!
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão
drão!
drão!" (Gilberto Gil)
A sensibilidade de Gil nesta canção é fantástica. Mostra o amor numa perspectiva transcendente e mostra a grandeza desta escolha que fazemos em nossas vidas: amar.
Tentaremos perscrutar todas as linhas da canção.
"O amor da gente
É como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela estrada escura..."

O amor como semente, uma semente que nasce muitas vezes colhida nas lágrimas. A dor de amar para ressuscitar, diz Gil. Damos conta desta realidade nos nossos relacionamentos. O amor que nasce vem traz consigo a contradição da dor e do sofrimento, da renúncia de si mesmo, da entrega total pelo o outro. Com toda certeza o amor é uma morte ressuscitada, e isso fica evidente quando olhamos para a figura do Crucificado, que nos leva além da morte, pois o amor vence tudo, vence até o ódio e a indiferença daqueles que são amados. A morte ressuscitada chama-se amor, porque Ele vive para sempre. São Paulo diz que tudo irá acabar no fim dos tempos, menos o amor. O amor é a capacidade eterna de escolher sempre o bem. Por isso quem ama há de experimentar não só as alegria, mas as cruzes da vida também. Sem a dor e as lágrimas o amor não cresce, se reduz á uma paixão e vai embora com o tempo, ao passo que o amor é duradouro, é eterno e passa sempre pela estrada escura.
Gil continua: " Não pense na separação, não despedace o coração" Magnifica constatação do autor. Na separação o coração fica despedaçado, por que? Porque o homem foi feito para a união. Quando existe a ruptura, sofre, sangra, despedaça, morre de dor.... A separação não é o destino do homem, o homem foi feito para a comunhão dele com Deus e com os outros. A separação causa feridas na alma e essas feridas mesmo com o passar dos tempos continuam. Porque o ser humano não é um ser matemático, ou um robô que está programado para fazer as coisas. O ser humano é uma metamorfose ambulante que precisa a cada dia de atenção, de conversão, de modelação. Não esqueceremos das coisas nunca, o tempo minimiza, mas esquecer é impossível. Por isso que a definição de perdão não é a de esquecer da ofensa cometida contra o outro, mas de deixar que o amor prevaleça na vida, que a paz seja uma constante no dia a dia.
"Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão
drão!
drão!"
Gil termina a canção reafirmando a primazia do amor na vida dos homens. Nada pode exterminar, nada pode fazer com que seja banido da face da Terra. O amor como o grão, nasce, germina, dá fruto, morre, mas ressuscita. Ressuscita, pois ele não acaba, se renova e se perpetua. Sem o amor andaríamos em trevas mesmo estando de dia. Sem o amor não somos nada. " "É só o amor, é só o amor!" Nos dirá Renato Russo pouco tempo depois.
Na perspectiva cristã o amor tem um nome: Cristo. Ele é o amor encarnado no meio de nós. Ao olharmos para Ele somos cativados pelo verdadeiro amor. "O ser humano vive porque é amado e pode amar; e se até no espaço da morte penetrou o amor, então também lá chegou a vida. Na hora da extrema solidão nunca estaremos sozinhos: "Passio Christi. Passio hominis". (Bento XVI)
Sim, Bento XVI tem razão ao dizer isto. Porque Ele nos amou nós temos a capacidade de amar e de ser dom um para o outro. Que essa capacidade de amar não seja nunca afugentada da nossa história, pois um homem que não ama, é pobre e indigente e sua vida vira uma mesmice um fardo pesado de carregar.

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