sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

20° Catequese

"Caríssimos irmãos e irmãs! Há seis anos, a primeira viagem apostólica do meu pontificado na Itália conduziu-me a Bari, para o 24º Congresso Eucarístico Nacional. Hoje, venho para concluir solenemente o 25º, aqui em Ancona. Agradeço ao Senhor por esses intensos momentos eclesiais que reforçam o nosso amor à Eucaristia e nos veem unidos em torno à Eucaristia! Bari e Ancona, duas cidades às margens do mar Adriático; duas cidades ricas de história e de vida cristã; duas cidades abertas ao Oriente, à sua cultura e à sua espiritualidade; duas cidades que os temas dos Congressos Eucarísticos contribuíram para aproximar: em Bari, tínhamos feito memória de como "sem o Domingo não podemos viver"; hoje, o nosso reencontro acontece sob o lema "Eucaristia para a vida cotidiana".
Antes de oferecer-vos alguma reflexão, gostaria de agradecer-vos por essa vossa coral participação: em vós, abraço espiritualmente toda a Igreja que está na Itália. Dirijo uma agradecida saudação ao presidente da Conferência Episcopal, Cardeal Angelo Bagnasco, pelas cordiais palavras que me dirigiu também em nome de todos vós; ao meu Legado a esse Congresso, Cardeal Giovanni Battista Re; ao Arcebispo de Ancona-Osimo, Dom Edoardo Menichelli, aos Bispos da Metropolìa, das Marche e àqueles inúmeros vindos de toda parte do país. Juntamente com eles, saúdo os sacerdotes, os diáconos, os consagrados e as consagradas, e os fiéis leigos, entre os quais vejo muitas famílias e muitos jovens. A minha gratidão vai também às Autoridades civis e militares e a quantos, de modos diversos, contribuíram para o bom êxito desse evento.
"Essa palavra é dura! Quem o pode admitir?" (Jo 6,60). Diante do discurso de Jesus sobre o pão da vida, na Sinagoga de Cafarnaum, a reação dos discípulos, muitos dos quais abandonaram Jesus, não está muito distante das nossas resistências diante do dom total que Ele faz de si mesmo. Porque acolher verdadeiramente esse dom significa perder-se, deixar-se envolver e transformar, até ao ponto de viver d'Ele, como nos recordou o apóstolo Paulo na segunda Leitura: "Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor" (Rm 14,8).
"Essa palavra é dura!"; é dura porque muitas vezes confundimos a liberdade com a ausência de vínculos, com a convicção de podermos agir sozinhos, sem Deus, visto como um limite à liberdade. É essa uma ilusão que não demora em tornar-se uma desilusão, gerando inquietude e medo e levando, paradoxalmente, a lamentar as cadeias do passado: "Oxalá tivéssemos sido mortos pela mão do Senhor no Egito..." – diziam os hebreus no deserto (Êx 16,3), como escutamos. Na verdade, só na abertura a Deus, no acolhimento de seu dom, nos tornamos verdadeiramente livres, livres da escravidão do pecado, que desfigura o rosto do homem, e capazes de servir ao verdadeiro bem dos irmãos.
"Essa palavra é dura!"; é dura porque o homem cai frequentemente na ilusão de poder "transformar as pedras em pão". Após ter colocado Deus de lado, ou tê-Lo tolerado como uma escolha particular que não deve interferir na vida pública, certas ideologias tentaram organizar a sociedade com a força do poder e da economia. A história nos mostra, de forma dramática, como o objetivo de garantir a todos desenvolvimento, bem-estar material e paz prescindindo de Deus e da sua revelação resultaram em um dar aos homens pedras no lugar de pão. O pão, queridos irmãos e irmãs, é "fruto do trabalho do homem", e nessa verdade está contida toda a responsabilidade confiada às nossas mãos e à nossa inventividade; mas o pão é também, e antes disso, "fruto da terra ", que recebe do alto sol e chuva: é dom a se pedir, que tolhe toda a soberba e nos faz invocar com a confiança dos humildes: "Pai (...), dá-nos hoje o nosso pão de cada dia "(Mt 6, 11).
O homem é incapaz de se dar a vida por si mesmo, ele se compreende somente a partir de Deus: é a relação com Ele que dá consistência à nossa humanidade e torna boa e justa a nossa vida. No Pai nosso, pedimos que seja santificado o Seu nome, que venha o Seu reino, que se cumpra a Sua vontade. É antes de tudo o primado de Deus que devemos recuperar no nosso mundo e na nossa vida, porque é esse primado que nos permite reencontrarmos a verdade daquilo que somos, e é no conhecer e seguir a vontade de Deus que encontramos o nosso verdadeiro bem. Dar tempo e espaço a Deus, para que seja o centro vital da nossa existência.
De onde partir, como da fonte, para recuperar e reafirmar o primado de Deus? Da Eucaristia: aqui Deus se faz tão próximo a ponto de se fazer nosso alimento, aqui Ele se torna força no caminho muitas vezes difícil, aqui se faz presença amiga que transforma. Já a Lei dada por meio de Moisés era considerada como "pão do céu", graças ao qual Israel torna-se o povo de Deus, mas, em Jesus, a palavra última e definitiva de Deus se faz carne, nos vem ao encontro como Pessoa. Ele, Palavra eterna, é o verdadeiro maná, é o pão da vida (cf. Jo 6,32-35) e cumprir as obras de Deus é crer n'Ele (cf. Jo 6,28-29)..." (Papa Bento)

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