"Caríssimos irmãos, no Evangelho de hoje, vemos a cena do paralítico de Cafarnaum. Por ouvirmos sempre esta Palavra, corremos o risco de não abrirmos mais nossos ouvidos para a novidade de Deus. Nós iremos, a vida inteira, ouvir as mesmas passagens da Sagrada Escritura. Mas como não nos acostumarmos com as mesmas Palavras, os mesmos ritos?
A capacidade de enxergar sempre o novo nos é dada pelo Espírito Santo. Sempre serão coisas novas que o Senhor nos dará. O problema não está em fazer as coisas de sempre, mas fazê-las do modo de sempre, porque aí a rotina entra em nossa vida. Não nos habituemos com as coisas de Deus.
Vamos pedir ao Espírito que Ele nos ajude a nos introduzirmos nesta cena do Evangelho. Nós nos colocamos em cada cena como um personagem a mais.
A primeira coisa que parece saltar aos nossos olhos são os quatro amigos que trazem o paralítico sobre a cama. Não conseguindo entrar na casa, eles sobem no telhado, abrem-no e descem aquele homem atingido pela paralisia.
A primeira coisa que nos salta aos olhos nesta cena é a perseverança dos amigos. Como contrasta a perseverança deles com a nossa falta de perseverança! Por que eles não se detêm? Porque amam o amigo, por isso não param diante dos obstáculos que se aproximam.
O amor aqui na terra exige de nós o sacrifício. Falamos que amamos a Deus, e quantas canções bonitas cantamos! Mas elas se tornam apenas canções que logo silenciam e não expressam a verdade de nosso ser.
Não nos esqueçamos de que o amor supõe sacrifício, renúncia; e quem não sabe renunciar não aprende a amar. É como uma criança que recebe tudo das mãos de seus pais.
Quando os amigos do Evangelho fazem todo o sacrifício, estão almejando a cura física do paralítico. Mas Jesus, primeiro, perdoa-lhes o pecado. Qual a razão para o Senhor lhes perdoar os pecados? Jesus cura o paralítico pela fé de seus amigos. Eis aí um belo exemplo da intercessão.
Por que o Senhor, antes de curar a paralisia, perdoa os pecados? Porque Ele quer nos dizer que deve haver uma hierarquia na busca pela cura; portanto, devemos primeiro buscar aquilo que é do céu para depois buscar o que é da terra. “Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mateus 6,33).
Quantas vezes buscamos a Deus para saciar a sede do nosso paladar, para matar a sede deste mundo, quando Ele quer nos dar a água da vida eterna. Nossas igrejas estão cheias de pessoas que buscam os bens do Senhor e não o Senhor. É um amor gratuito o que Deus pede de nós.
Muitas das nossas enfermidades serão sanadas quando permitirmos que Deus cure a nossa alma. Não percamos isso de vista. Em primeiro lugar aquilo que é do Espírito e tudo mais virá por acréscimo.
O Senhor nos diz que o mais importante é a reconciliação com Deus. Nós sacerdotes devemos entender isso. Mais do que qualquer ação nossa, neste mundo, nada é mais importante do que distribuir o Corpo e o Sangue de Cristo aos fiéis e lhes dar o perdão dos pecados, a reconciliação com Deus. No entanto, para que isso aconteça é preciso que nos reconheçamos sujos [pecadores], pois só assim seremos lavados. Quando nos confessamos, precisamos dizer os pecados aos sacerdotes com detalhes, como “nome e sobrenome”.
Para que acolhamos a misericórdia de Deus é preciso que reconheçamos nossos pecados.
“O Deus que o criou sem ti, não o salvará sem ti” (Santo Agostinho). Um modo prático de ajudar a Deus na nossa salvação é confessar nosso pecados.
Santa Teresa dizia que a humildade é a verdade. Reconhecer que não somos nada diante de Deus é reconhecer nossa verdade diante d'Ele.
Nós sacerdotes já ouvimos o imaginável e o inimaginável nas confissões, mas não nos surpreendemos com nenhum pecado, porque também somos pecadores. Um homem, seja ele quem for, pode cometer os maiores pecados do mundo. E se não os cometemos, é porque Deus é misericordioso conosco e não nos permitiu cometê-los.
Qual foi a última vez que você ouviu, na sua paróquia, uma pregação sobre o inferno, sobre o juízo de Deus? Se você ouviu, bendito seja seu sacerdote, mas, na maioria das vezes, os sacerdotes se silenciaram sobre isso, porque não querem ferir os fiéis.
A Igreja deve cuidar de todos os pobres e ai dela se não fizer isso. Mas tudo está subordinado à salvação das almas. O pecado não é invenção medieval; o pecado de ontem vai ser o pecado de sempre.
Nós fomos batizados, fomos chamados à santidade, mas o pecado nos desvia do caminho da salvação. Não pode haver para nós os “pecadinhos de estimação”, os “pecadinhos do dia a dia”. Não podemos nos habituar com os pecados, porque eles não são erros de ortografia que podem ser apagados com a tecla de deletar..." (Pe. Demétrio Gomes)
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