quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

71ª Catequese

Pensamentos do Cardeal Hans Urs Von Baltazar
"Por que você fez isso conosco — diz a Virgem? Eu e o seu pai te procurávamos aflitos!' Ele (o Cristo) não pode poupá-los desse sofrimento. Só nessa busca um cristão pode 'encontrar'; uma busca tão séria que é como se tudo dependesse dessa coisa que se quer encontrar. Não há outra recomendação para a vida cristã a não ser esta: só podemos encontrar Jesus no lugar onde ele se entregou a Deus. Todo cristão deve procurá-lo 'entre parentes e conhecidos', para cima e para baixo da estrada; mas no final, sempre ouviremos dele as palavras: 'Não sabíeis que eu devo tratar das coisas do meu Pai?' Muito provavelmente, como Maria e José, a princípio não entenderemos nada, e teremos de procurar ainda mais. Maria Madalena o procura no sepulcro, mas depois que Ele se deixa encontrar, ela tenta segurá-lo, e ele desaparece. Da mesma forma, ele some da vista dos discípulos de Emaús no momento em que, finalmente, eles conseguem identificá-lo. Nós só o encontramos definitivamente 'no lugar do Pai', no céu, — isto é, quando 'encontrar' já não significa delimitar Deus no nosso próprio espaço, mas significa que nós fomos 'encontrados' por Deus, que nós entramos no espaço Dele, que nós somos 'conhecidos por Deus', como diz são Paulo. 'Deus é infinito, de modo que continuaremos procurando por Ele mesmo depois de tê-lo encontrado' (Santo Agostinho)".

"Esse total dom de si, para o qual o Filho e o Espírito Santo respondem, repetirão, significa algo como uma "morte", uma primeira e radical "kenose", se se quiser: uma "super morte", que se encontra como aspecto de todo amor e que fundamentará no interior da criatura tudo aquilo que nela poderá ser uma boa morte: do esquecer-se de si mesma pela criatura amada até aquele supremo amor que "dá a vida por seus amigos" .

"A Teologia é uma ciência 'de joelhos'".

"A infância e a morte estão uma ao lado da outra: o seu mistério essencial chama-se simplesmente. entregar-se a si mesmo de forma completa. A criança manifesta-se no mundo nua no corpo e nua do espírito, enquanto inerme deve confiar-se ao mistério do Pai. Tudo aquilo que se encontra entre onascimento e a morte constitui um parêntese. A sua seriedade faz parte do jogo de Deus: todavia, no início e no final revela-se sem qualquer obstáculo o modo de jogar: o Filho do Pai, que procede eternamente dele, volta para Ele também de forma eterna, e em cada instante de tempo. E nós, crianças, somos convidados a participar precisamente neste jogo"

"Em todas as culturas não cristãs a criança tem uma importância somente marginal, porque é simplesmente um estado que precede o homem adulto. Necessita-se da encarnação de Cristo para que possamos ver não somente a importância antropológica, mas também aquela teológica e eterna do nascer, a bem-aventurança definitiva do ser a partir de um sinal que gera e dá à luz"

"Tudo o que é humano é argila nas mãos do Criador e Redentor".

"Para os cristãos não existe qualquer motivo que os leve a restringir o conceito de espiritualidade ao espaço cristão"

"Se agora passamos a ver as coisas através da espiritualidade da ação (Aristóteles), tem de dizer-se então que ela (espiritualidade da ação) é justamente importante para o Eros absoluto. Mais ainda: ela desempenha na espiritualidade humana um papel indispensável e decisivo, no sentido de que ajuda e facilita ao Eros a consecução da sua tarefa, qual é a de permanecer ativamente no espaço mundano, visto como lugar obrigatório do seu exercício, provação, educação e purificação. Este campo de atividade é para o homem necessariamente duplo: primeiro, porque é Eros entre o Eu e o Tu, não só à dimensão sexual, como também à supra-sexual, ao nível da amizade; depois, porque é também Eros como entrega à sociedade (povo, estado, humanidade) e à comum empresa de humanidade (cultura, técnica e progresso). Esta dualidade característica do Eros assenta porém na própria essência do homem: ele é efetivamente uma pessoa exclusiva, quando visto na sua relação ao corpo. Mas simultaneamente ele é também espírito e como tal aberto e obrigado a ser universal (…) Em todo o caso, é devido à estrutura do Eros, olhado como desejo de realização do Espírito, que o homem se sente obrigado a colaborar com os outros homens para a construção do mundo, sem com isto dizer que o Eros deve terminar a sua atividade no espaço humano ou mundano"

"A estrutura interior do Evangelho exige que, para imitar a Cristo, o homem tenha de arriscar tudo numa só jogada, sem se importar com mais nada. O deixar tudo é absoluto e exclui até o olhar para trás, pela última vez, exclui qualquer conciliação entre seguir Jesus e o adeus à casa paterna, entre Jesus e o dever de sepultar o próprio pai, entre Jesus e qualquer outra coisa que pudesse condicionar o caráter absoluto da entrega!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário