quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

88ª Catequese

"Naquele tempo, um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado. Então Jesus o mandou logo embora, falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”
Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo." (Mc 1, 40-45)

Dividamos esta reflexão em três frases chaves que compõem esta bela passagem evangélica:

1."Naquele tempo, um leproso chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: “Se queres, tens o poder de curar-me" (Mc 1, 40-41)
O evangelista mais sintático, Marcos, narra para nós um fato tão importante quanto a cura realizada por Jesus. Ele narra o encontro de um leproso com o Senhor. Chama atenção na narração, o fato do evangelista focar o modo como o leproso se aproxima de Cristo. Diz ele:"Chegou perto de Jesus, e ajoelhou-se." (Mc1, 40) Antes de fazer o pedido o leproso reconhece diante de quem ele está. Vê na figura de Jesus o próprio Deus, o Verbo que veio habitar no meio de nós, a Palavra eterna abreviada do Pai. Se aproxima, e se prostra na mendicância. Diante de Deus a única postura correta e verdadeira é esta: ajoelhar-se. Na Santa Missa, no ápice do culto eucarístico, a consagração, os fiéis se ajoelham. A liturgia da Igreja, com sua forma pedagógica, nos insere no Mistério central da fé cristã, e nos diz: diante do altar está o próprio Deus, por isso prestamos a Ele a nossa adoração e o nosso louvor. Assim fez o leproso. Não foi logo pedindo, não foi logo tomando á frente da situação, inclinou-se, reconheceu a sua infimidade diante daquele Homem que estava diante de si. Deste modo, percorre o caminho de salvação e encontra-se com a sua própria salvação: Cristo. Se inclina, e pede:" “Se queres, tens o poder de curar-me”.(Mc 1, 41) Percebe a fala? Não impõe nada a Jesus, pelo contrário, pergunta se Jesus o quer curar.
Minha cara, a oração não deve ser uma imposição nossa a Deus. Não precisamos dizer o que Deus tem que fazer, Ele sabe o que precisa ser feito. O controle de tudo está em suas mãos, e nós, criaturas humanas, somos tão impotentes diante da vida, que a única coisa que precisamos entender é isso: Deus sabe o que faz. Ele não precisa de conselhos nossos, não precisa de nossa ajuda, na verdade, nós é que precisamos dEle. Precisamos de seu favor para libertar o nosso coração da lepra da mesquinhez e do orgulho. É Ele que limpa as nossas imundices para que possamos caminhar pelo caminho certo. É sempre a atitude dEle que muda tudo ao nosso redor. Quanto mais entendermos essa realidade, tanto mais não bateremos cabeça diante das situação inúmeras que a vida nos apresenta.

2. "Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: “Eu quero: fica curado!” No mesmo instante, a lepra desapareceu, e ele ficou curado." (Mc 1, 41-42)
A sensibilidade de Cristo me encanta. Estava lá Ele, diante do leproso que o pedia algo. Com tranquilidade, na mansidão peculiar, na atenção tão própria o coração de Cristo se move. COMOVE-SE. A comoção, atitude de ir ao outro, perscrutar o outro, mergulhar no oceano do outro, faz com que Jesus olhe para aquele pobre miserável, que não tinha ninguém por ele, com olhos de misericórdia. Marcos diz que Jesus tomado de compaixão disse ao leproso: " Eu quero, fica curado."(Mc 1, 41) Sim , o querer dEle transforma aquele homem. A lepra que o envolvia não o envolve mais. A compaixão de Cristo, o seu favor, a sua benevolência, inaugura para aquele homem vida nova. Agora os empecilhos, os dramas, as dores, a vergonha e tudo o mais não fazem parte da vida dele. A novidade de Deus esbarrou nele. O Cristo, aquele Homem extraordinário, incomum, irredutível a qualquer análise humana, faz o milagre ser real. Diz "Eu, quero" e as coisas acontecem. Uma frase simples, que joga por terra a complicação de pecado e de doença. A compaixão de Cristo, o seu amor pelo homem, fazia com que Ele fosse tomado de um desejo profundo de salvar o mesmo homem. Muitas vezes não dormia, não comia, não tinha tempo para si mesmo, vivia andando pelas cidades e povoados pregando o Reino de Deus, curando, ensinando, levando os homens ao conhecimento da verdade, tudo isso por amor ao Pai, por obediência ao Pai e pelo amor que nutria pelas criaturas. O coração de Jesus movia-se, comovia-se, ao ver um coração sofrido. Partilhava com os sofredores de sua dor, compreendia-os e os desafiava a viver a lógica de Deus. Diante do leproso, o desejo de Jesus provocou naquele homem um fascínio impressionante. Poderia ele pensar: Mas que homem é esse? Que figura é esta? Nunca via coisa semelhante!" De fato, igual a Jesus nem mesmo os grandes Patriarcas de Israel, os profetas e doutores, nenhum deles despertavam naquele povo tal fascínio. Jesus era diferente, eles percebiam isso, por isso iam atrás dele. Não entendiam nada do que Ele lhes falava, mas não podiam voltar para as suas casas sem vê-Lo, sem tocar nEle, sem sentir a sua Presença. Cristo provocava os seus com sua figura singular e eles não tinham como fugir. Ao rezarem deveriam meditar as suas palavras. Quando estavam no campo ou no trabalho, a voz daquele homem ressoava em seus ouvidos como música. Onde estavam, o que faziam, pensavam nEle e desejavam reencontrá-Lo mais uma vez. É assim também no hoje da nossa história, é sempre assim. Ele nos fascina a cada dia e nos interpela. Essa companhia de Cristo é o nosso verdadeiro tesouro, mas que as curas que Ele possa nos oferecer, mais do que o perdão que Ele pode nos dá, mesmo vendo as maravilhas que Ele opera no meio de nós, tudo isso tem significado profundo quando estamos com Ele. O que adianta ser curado, ser perdoado, ser testemunha ocular das suas maravilhas, se nós não temos a sua Presença? É a mesma coisa querer tentar abrir um baú cheio de ouro sem a chave. É inútil, não serve para nada. Cristo, a sua Pessoa, a nossa afeição a Ele, isso sim, torna a vida mais bela e mais renovadora na medida em que o tempo passa. Sem Ele as coisas são totalmente vãs, nos lembra Dom Giussani. É preciso nos apegar a esta verdade, se não tudo se perde, tudo vaio por água abaixo.

3. Então Jesus o mandou logo embora, falando com firmeza: “Não contes nada disso a ninguém! Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moisés ordenou, como prova para eles!”
Ele foi e começou a contar e a divulgar muito o fato. Por isso Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos. E de toda parte vinham procurá-lo."(Mc 1, 43-45)
Terceira observação: Jesus manda o leproso ir até o sacerdote para que este testifique a cura, assim como a Lei mosaica prescrevia. O que Jesus quer com isso? Quer mostrar primeiro que Ele não é qualquer um. Ele é o Filho de Deus, aquele que tem poder sobre tudo, o único que pode restaurar a vida de um homem morto que há tempos havia morrido socialmente falando. Ele não é só um curandeiro, é o Senhor no meio de nós. E depois quer com isto deixar claro que não veio abolir a Lei, mas dar a ela pleno cumprimento. Não veio apagar aquilo que Móises escreveu, mas veio dar um sentido mais pleno as palavras e as realidades que estavam na Lei.
O leproso nos ensina a estarmos diante de Jesus como se deve: prostrados, entregues diante de sua Presença, mendicantes de seu favor. Jesus, aquEle que tudo sustenta, nos envolve com a sua compaixão e nos ensina a olharmos uns para os outros com comoção, tirando as escamas que nos impede de ver o outro como o outro é de fato, nosso irmão. Ele que soube sentir compaixão dos sofredores, nos ensina a sermos também assim. Seguindo o seu exemplo, estaremos fincados nesta rocha que é Ele mesmo e desfrutaremos sempre de sua companhia, a nossa maior riqueza.

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