quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

73ª Catequese

"Ó doce amor, assassino do Amor,
peço que me mates de amor.
Amor, eis aí levado teu enamorado
a tão duro morrer;
por que o fizeste, por que não quiseste
que eu devesse perecer?
Não hás de me esquecer, não hás de querer
que eu não morra nos braços do Amor.
Se não perdoaste a quem tanto amaste,
como a mim vais perdoar?
É sinal que sou amado, se por ti eu sou fisgado
e como um peixe não posso escapar.
Não me deves perdoar, está em meu amar
que eu morra sufocado de amor.
O Amor, ei-lo que pende, a cruz o prende
e não o deixa partir.
À cruz vou correndo e a ela me prendo,
para a perda prevenir:
porque o fugir faria eu me consumir,
faria eu não ser inscrito no amor.
Ó cruz, eu estou aqui, firme junto a ti:
que eu prove morrendo dessa vida
que é teu adorno e troféu, ó morte de mel;
triste de mim a quem não foste concedida!
Ó Alma assim decidida, sequiosa da ferida,
que eu morra flagelado de amor.
À cruz vou correndo, no lenho vou lendo,
no livro que é, ensangüentado:
pois tal escritura me faz em natura
e‟m filosofia cultivado.
Ó livro sagrado, por dentro és dourado
e todo florido de amor!
Ó amor de cordeiro, maior que o mar inteiro,
quem te dizer poderia?
Quem tivesses afogado, onde embaixo, onde de lado,
como saberia?
Mas louco se fia que é reta via
seguir enlouquecido de amo." (Jacopone da Todi)

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