quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

78ª Catequese

Homilia do Beato João Paulo II na Conclusão da XV JMJ, Tor Vergata

"1. «Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6, 68).
Queridos jovens e queridas jovens da décima quinta Jornada Mundial da Juventude, estas palavras de Pedro, no diálogo com Cristo no fim do discurso do «pão da vida», tocam-nos pessoalmente. Nestes dias, meditámos sobre a afirmação de João: «O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós» (Jo 1, 14). O evangelista conduziu-nos até ao grande mistério da encarnação do Filho de Deus, o Filho que nos foi dado por meio de Maria, «ao chegar a plenitude dos tempos» (Gal 4, 4).
Em nome de Cristo, vos saúdo uma vez mais a todos com grande afecto. Saúdo e agradeço ao Cardeal Camillo Ruini, meu Vigário Geral na diocese de Roma e Presidente da Conferência Episcopal Italiana, as palavras que houve por bem dirigir-me no início desta Santa Missa; saúdo também o Cardeal James Francis Stafford, Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, e os numerosos Cardeais, Bispos e sacerdotes aqui reunidos; saúdo, igualmente, com deferente gratidão o Senhor Presidente da República e o Chefe do Governo italiano, bem como as demais Autoridades civis e religiosas que nos honram com a sua presença.
2. Chegamos ao ponto culminante da Jornada Mundial da Juventude. Ontem à noite, queridos jovens, reafirmámos a nossa fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus que o Pai enviou, como no-lo recordou a primeira leitura de hoje, «a levar a boa nova aos pobres, a curar os de coração despedaçado, a anunciar a amnistia aos cativos, e a liberdade aos prisioneiros, (...) a consolar os tristes» (Is 61, 1-3.4).
Com esta Celebração Eucarística, Jesus introduz-nos no conhecimento de um aspecto particular do seu mistério. No Evangelho, escutámos uma parte do discurso que Ele fez na sinagoga de Cafarnaum, depois do milagre da multiplicação dos pães. Cristo revela-Se como o verdadeiro pão da vida, o pão descido do céu para dar a vida ao mundo (cf. Jo 6, 51). É um discurso que os ouvintes não entendem. A perspectiva em que se movem é demasiado materialista para poderem captar o verdadeiro sentido das palavras de Cristo. Raciocinam segundo uma óptica da carne, que «não serve para nada» (Jo 6, 63). Jesus, ao contrário, abre o discurso para os horizontes ilimitados do espírito: «As palavras que Eu vos disse - sublinha Ele - são espírito e vida» (Jo 6, 63).
Mas o auditório está refractário: «Duras são estas palavras! Quem pode escutá-las?» (Jo 6, 60). Consideram-se pessoas de bom senso, com os pés na terra. Por isso abanam a cabeça e, resmungando, lá se vão embora um após outro. A multidão inicial vai-se reduzindo aos poucos. No fim, resta apenas o exíguo grupinho dos discípulos mais fiéis. Mas, sobre o «pão da vida», Jesus não está disposto a ceder. Antes, está pronto a enfrentar inclusive a separação dos mais íntimos: «Também vós quereis retirar-vos?» (Jo 6, 67).
3. «Também vós... ?» A pergunta de Cristo transpõe os séculos e chega até nós, interpela-nos pessoalmente e pede uma decisão. Qual é a nossa resposta? Queridos jovens, se hoje estamos aqui, é porque nos reconhecemos na afirmação do apóstolo Pedro: «Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6, 68).

Palavras, ao nosso redor ressoam tantas, mas só Cristo tem palavras que resistem à erosão do tempo e duram por toda a eternidade. Esta fase da vida em que vos encontrais, impõe-vos algumas opções decisivas: a especialização nos estudos, a orientação no trabalho, o próprio compromisso que se tem de assumir na sociedade e na Igreja. É importante tomar consciência que, dentre as muitas questões que emergem no vosso espírito, as decisivas não dizem respeito a «que coisa». A pergunta fundamental é «quem»: ir para «quem», «quem» seguir, «a quem» entregar a própria vida.
Pensai na vossa escolha afectiva, e imagino que estais de acordo comigo: o que verdadeiramente conta na vida é a pessoa com quem se decide partilhá-la. Mas, cuidado! Toda a pessoa humana é inevitavelmente limitada: mesmo no matrimónio mais feliz, não deixa de registar-se uma certa medida de desilusão. Pois bem, meus caros amigos! Não serve isto para confirmar o que acabamos de ouvir o apóstolo Pedro dizer? Todo o ser humano, mais cedo ou mais tarde, termina exclamando como ele: «Para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna». Só Jesus de Nazaré, o Filho de Deus e de Maria, o Verbo eterno do Pai, nascido há dois mil anos em Belém da Judeia, só Ele é capaz de satisfazer as aspirações mais profundas do coração humano.

Na pergunta de Pedro «para quem havemos nós de ir?», está já a resposta relativa ao caminho a percorrer. É o caminho que leva a Cristo. E o Mestre divino é acessível pessoalmente: de facto, está realmente presente com o seu corpo e o seu sangue no altar. No Sacrifício Eucarístico, podemos entrar em contacto, de modo misterioso mas real, com a sua pessoa, saciando-nos na fonte inexaurível da sua vida de Ressuscitado... Sede vós mesmos testemunhas fervorosas da presença de Cristo nos nossos altares. Que a Eucaristia plasme a vossa vida, a vida das família que haveis de formar. Que ela oriente todas as vossas opções de vida. Que a Eucaristia, presença viva e real do amor trinitário de Deus, vos inspire ideais de solidariedade e vos faça viver em comunhão com os vossos irmãos dispersos pelos quatro cantos da terra.

De modo particular, brote da participação na Eucaristia um novo florescimento de vocações para a vida religiosa, que assegure a presença na Igreja de forças novas e generosas para a grande tarefa da nova evangelização. Se algum ou alguma de vós, jovens amigos, sente dentro de si o chamamento do Senhor para se entregar totalmente a Ele e amá-Lo «com coração indiviso» (cf. 1 Cor 7, 34), não se deixe retrair pela dúvida ou pelo medo. Mas, com coragem, diga o seu «sim» sem reservas, confiando n'Ele que é fiel em todas as suas promessas. Porventura não assegurou Jesus, a quem deixar tudo por amor d'Ele, o cêntuplo aqui na terra e depois a vida eterna (cf. Mc 10, 29-30)?

7. No termo desta Jornada Mundial, olhando para vós, para os vossos rostos jovens, para o vosso entusiasmo sincero, quero dizer, do fundo do coração, um obrigado a Deus pelo dom da juventude, que, graças a vós, perdura na Igreja e no mundo.

Quero dizer a Deus obrigado pelo caminho das Jornadas Mundiais da juventude. Obrigado pelas multidões de jovens que elas atingiram ao longo destes dezasseis anos! São jovens que agora, já adultos, continuam a viver a fé onde residem e trabalham. Tenho a certeza que vós, queridos amigos, estareis à altura de quantos vos precederam. Vós levareis o anúncio de Cristo ao novo milénio. Voltando a casa, não vos isoleis. Confirmai e aprofundai a vossa adesão à comunidade cristã a que pertenceis. Daqui de Roma, da Cidade de Pedro e Paulo, o Papa acompanha-vos com afecto e, parafraseando uma afirmação de Santa Catarina de Sena, diz-vos: «Se fordes aquilo que deveis ser, pegareis fogo ao mundo inteiro!» (cf. Carta 368).

Com confiança, olho esta nova humanidade que se está preparando devido também à vossa contribuição, vejo esta Igreja perenemente rejuvenescida pelo Espírito de Cristo e que hoje rejubila com os vossos propósitos e o vosso compromisso. Estendo o olhar para o futuro e faço minhas as palavras duma antiga oração, que canta simultaneamente o dom de Jesus, da Eucaristia e da Igreja:

«Graças Vos damos, Pai nosso,
pela vida e pela ciência
que nos revelastes por Jesus, vosso servo.
Glória a Vós pelos séculos!

Assim como este pão repartido
estava disperso pelos montes
e, depois de recolhido, se tornou um só,
assim se reúna a vossa Igreja
dos confins da terra no vosso reino (...).

Senhor omnipotente,
Vós criastes o universo,
para glória do vosso nome;
e destes aos homens comida
e bebida para seu alento,
para que Vos dessem graças;
mas a nós concedestes-nos um alimento
e uma bebida espirituais
e a vida eterna por meio do vosso Filho (...).
Glória a Vós pelos séculos» (Didaké 9, 3-4; 10, 3-4).

Amem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário