quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

86ª Catequese

"Queridos irmãos e irmãs, estou contente por acolher-vos nesta primeira Audiência Geral do novo ano e, de todo o coração, dirijo a vós e às vossas famílias minhas afetuosas saudações. Deus, que no nascimento de Cristo, Seu Filho, inundou de alegria o mundo inteiro, conceda obras e dias na sua paz. Estamos no Tempo Litúrgico do Natal, que inicia na noite de 24 de dezembro, com a Vigília, e conclui-se com a celebração do Batismo do Senhor. O arco dos dias é breve, mas denso de celebrações e mistérios e se recolhe em torno das duas grandes Solenidades do Senhor: Natal e Epifania. O próprio nome dessas duas festas indica suas respectivas fisionomias. O Natal celebra o fato histórico do nascimento de Jesus em Belém. A Epifania, nascida como Festa no Oriente, indica um fato, mas, sobretudo, um aspecto do mistério: Deus revela-se na natureza humana de Cristo e esse é o sentido do verbo grego epiphaino, tornar-se visível. Nessa perspectiva, a Epifania recorda uma pluralidade de eventos que têm como objeto a manifestação do Senhor: de modo particular, a Adoração dos Magos, que reconhecem em Jesus o Messias esperado, mas também o Batismo no Rio Jordão com a sua teofania – a voz de Deus do alto – e o milagre nas Bodas de Caná, primeiro "sinal" operado por Cristo.
Uma belíssima antífona da Liturgia das Horas unifica esses três acontecimentos em torno do tema das núpcias entre Cristo e a Igreja: "Hoje, a Igreja une-se ao Seu Esposo celeste, porque, no Jordão, Cristo lavou os seus pecados; os Magos acorrem com dons às núpcias reais, e os convidados alegram-se vendo a água transformada em vinho" (Antifona delle Lodi). Podemos quase dizer que, na Festa do Natal, sublinha-se o escondimento de Deus na humildade da condição humana, no Menino de Belém. Na Epifania, ao contrário, evidencia-se o Seu manifestar-se, o aparecer de Deus através desta mesma humanidade.
Nesta Catequese, gostaria de recordar brevemente alguns temas próprios da celebração do Natal do Senhor, a fim de que cada um de nós possa beber da fonte inexaurível deste mistério e produzir frutos de vida.
Antes de tudo, perguntemo-nos: Qual é a primeira reação diante desta extraordinária ação de Deus, que se faz criança, que se faz homem? Penso que a primeira reação não pode ser outra que não alegria. "Alegremo-nos todos no Senhor, porque nasceu no mundo o Salvador": assim inicia a Missa de Natal, e ouvimos há pouco as palavras do Anjo aos pastores: "Eis que vos anuncio uma grande alegria" (Lc 2,10). É o tema que abre o Evangelho, e é o tema que o encerra, porque Jesus ressuscitado repreenderá os Apóstolos exatamente por estarem tristes (cf. Lc 24,17) – incompatível com o fato de que Ele permanece Homem eternamente.
Mas demos um passo adiante: De onde nasce essa alegria? Diria que nasce do estupor do coração em ver o quanto Deus nos é próximo, o quanto pensa em nós e age na história. É uma alegria, portanto, que nasce do contemplar o rosto daquele humilde Menino, porque sabemos que é o Rosto de Deus, presente para sempre na humanidade, para nós e conosco. O Natal é alegria porque vemos e estamos finalmente seguros de que Deus é o Bem, a Vida, a Verdade do homem e se abaixa até o homem para levantá-lo a Si. Deus torna-se tão próximo a ponto de se deixar ver e tocar. A Igreja contempla esse inefável mistério e os textos da Liturgia deste tempo são permeados pelo estupor e pela alegria; todos os cantos de Natal expressam esta alegria. O Natal é o ponto em que céu e terra unem-se, e várias expressões que ouvimos nestes dias sublinham a grandeza do que aconteceu: o distante – Deus parece distantíssimo – torna-se próximo; "o inacessível quis ser alcançável. Ele, que existe antes do tempo, começou a estar no tempo, o Senhor do universo, velando a grandeza de sua majestade, assume a natureza de servo", exclama São Leão Magno (Sermone 2 sul Natale, 2.1). Naquele Menino, necessitado de tudo, como são as crianças, está aquilo que Deus é: eternidade, força, santidade, vida, alegria, que se une àquilo que somos nós: debilidade, pecado, sofrimento, morte.
A teologia e a espiritualidade do Natal usam uma expressão para descrever esse fato: falam de admirabile commercium, isto é, de um admirável intercâmbio entre divindade e humanidade. Santo Atanásio de Alexandria afirma: "O filho de Deus se fez homem para fazer-nos Deus" (De Incarnatione, 54, 3: PG 25, 192), mas é sobretudo com São Leão Magno e as suas célebres Homilias sobre o Natal que essa realidade torna-se objeto de profunda meditação. Afirma, de fato, o Santo Pontífice: "Se apelamos à inexprimível condescendência da misericórdia divina que levou o Criador dos homens a fazer-se homem, essa nos elevará à natureza d'Aquele que nós adoramos na nossa" (Sermone 8 sul Natale: CCL 138,139). O primeiro ato deste maravilhoso intercâmbio realiza-se na própria humanidade de Cristo. O Verbo assumiu a nossa humanidade e, em troca, a natureza humana foi elevada à dignidade divina..."(Papa Bento XVI)

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