Ao criar este blog, gostaria de propor reflexões, mensagens e apontamentos sobre aspectos relevantes a fé e tudo aquilo que ensina a Santa Igreja, através de seu magistério, da Liturgia e dos demais meios que nos são propostos pela mesma Igreja. Espero que todos gostem deste novo blog. Grande abraço a todos, sejam bem vindos!
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Na fé, homem e povo ( Dom Giussani)
Depois da reunião em Rímini, foram realizadas duas "Equipes" (encontro de responsáveis dos universitários de CL; nde),uma em Florença, em fevereiro de 1976, e outra mais uma vez em Rímini, em maio do mesmo ano. Certamente, a proposta da "comunhão de base" havia impressionado os universitários e se tornaria um dos temas de ambos os encontros; mas era difícil entender o que significava, para cada pessoa e para a comunidade, apesar da reflexão que se fazia sobre as dimensões da experiência cristã e sobre toda uma série de palavras ligadas a ela (educação, gratuidade, responsabilidade). Além disso, percebia-se o quanto era urgente rever a "presença" na universidade e a fisionomia da comunidade, de modo a conter uma espécie de "fuga da universidade" na direção de ambientes externos, que já se estava tornando um fenômeno bastante comum. No entanto, a atenção acabava quase sempre voltada às conseqüências culturais e de organização, para não falar das "políticas" (em janeiro daquele ano, haviam ocorrido as eleições dos representantes dos alunos nos órgãos acadêmicos). Era um pouco difícil mudar a maneira habitual de conceber e viver a vida na universidade. Dom Giussani não participou da Equipe de Florença. Mas esteve na de Rímini, sentado discretamente no fundo do salão, de onde acompanhou uma tarde inteira de debates dedicados ao trabalho cultural e político na universidade. Depois de uma pausa, antes das conclusões, pediu a palavra, para manifestar suas reações ao que tinha ouvido.
Seria interessante que cada um de vocês respondesse a esta pergunta, da qual, na minha opinião, depende todo e qualquer problema: "O que é a fé?"
A meu ver, falta a clareza da resposta: mas, se falta a clareza da resposta, como é que o método, ou seja, o caminho, a vida que se vive, pode se tornar criativo? Efetivamente, só um sujeito maduro e autoconsciente é criativo.
Ora, qual é hoje o papel de CL dentro da vida da Igreja e da sociedade italiana, senão ser chamado de atenção à fé? Ninguém mais chama a atenção para os conteúdos da fé; por isso, todos fazem mil coisas, mas não conseguem encontrar o seu sujeito, o seu rosto, a sua identidade. Mas, se falta a clareza, então aquilo que é função e instrumento de uma autoconsciência tende a ocupar o lugar de uma coisa que não existe.
Afinal, o que é a fé? A pessoa entende o que é a fé quando imagina como seria se estivesse no lugar dos primeiros, no lugar de André e João, que seguiram a Jesus e perguntaram a ele: "Mestre, onde moras?" (cf. Jo 1,38). Diante daquele homem, o que era a fé? Era reconhecer a presença divina. Eles nem ousavam pensar nisso, não tinham clareza sobre isso, mas reconheciam naquele homem a presença que libertava, que salvava.
A fé que define a nossa identidade e nos torna sujeitos ativos, e portanto criativos, é perceber essa presença entre nós, essa presença que é a nossa unidade, que é o nosso sermos povo. A minha identidade adequada é a nossa unidade como povo; a consciência disso eliminaria imediatamente cem por cento das dificuldades gravíssimas que existem entre a consideração do próprio sujeito entendido de forma individual e a vida da comunidade, dificuldades que a meu ver levam ao desperdício de uma infinidade de energias. A verdadeira relação com o adulto, ou seja, com a pessoa que tem autoridade no CLU (universitários de CL; nde), é a relação com a história da maneira como ela é guiada: realmente, qualquer outra relação estaria arriscada a decair numa relação pessoal e tendencialmente intimista (que só poderia ser salva por uma excepcional clareza e objetividade da pessoa madura; mas isso, como eu já disse, só acontece em casos excepcionais).
Uma coisa é objetiva quando nos salva, uma coisa é objetiva quando faz com que nos tornemos adultos. A fé é reconhecer a presença da libertação da vida, a presença da salvação de tudo; é isso que gera uma certeza cheia de energia e alegria que nós não temos. É isso que vence o mundo, e que nós não temos: a fé. É a fé de cada um de vocês, a fé que reconhece essa presença que os redime e liberta e, ao mesmo tempo, redime e liberta o mundo. Há dois mil anos, essa presença tinha o rosto daquele Homem, e hoje tem o rosto da nossa unidade, do povo que é Corpo dele: a nossa identidade verdadeira e adequada é esse Corpo, está na unidade com esse Corpo.
É como se nós ainda não tivéssemos cruzado o limiar do Acontecimento do qual tomamos o nome. É como se não fosse uma realidade, mas apenas um nome ideológico, um ponto de partida ideológico que implica uma certa característica cultural e uma certa característica moral em diferentes estágios que se justapõem.
Pelo contrário, a característica de um homem que se lança na história, ele cria com letícia e alegria.
A segunda coisa a levar em conta é que não existe um indivíduo suspenso no ar; o que existe é uma identidade encarnada: e uma identidade só pode existir na situação em que se está. O problema não é a unidade com o CLE (educadores de CL; nde), com o CLU, com os diversos níveis do Movimento; o problema é essa autoconsciência da novidade que nós somos e que vive na situação em que estamos. Assim, poderíamos até não estar à altura do que nos é pedido na universidade (nos cursos, nos conselhos de faculdade), mas ser igualmente ardentes, graças à novidade que carregamos conosco.
Quando acaba o tempo da universidade, é esse frêmito de identidade que deve ser levado pela vida afora, na vida da Igreja, no esforço civil, social e político.
Quando isso acontece, o engajamento político também é articulado como trabalho cultural, pois a pessoa tem consciência do que significa trabalhar para responder às necessidades culturais. Trata-se da consciência de um povo que aprofunda cada vez mais, em contato com os acontecimentos, a clareza de que carrega em si a resposta à crise.
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