Ao criar este blog, gostaria de propor reflexões, mensagens e apontamentos sobre aspectos relevantes a fé e tudo aquilo que ensina a Santa Igreja, através de seu magistério, da Liturgia e dos demais meios que nos são propostos pela mesma Igreja. Espero que todos gostem deste novo blog. Grande abraço a todos, sejam bem vindos!
terça-feira, 28 de setembro de 2010
COR AD COR LOQUITUR
"COR AD COR LOQUITUR"(O coração fala ao coração)Inspirado pelo lema do Beato John Henry Newmam, gostaria de propor uma reflexão sobre tal pensamento que nos coloca no centro da relação entre dois indivíduos.
O coração fala, mas não fala com palavras e sim com atitudes concretas que nos permite enchergar a beleza do amor verdadeiro. Fala por si só o coração que bate no compasso acelerado dos apaixonados. Fala por si só o coração inebriado de amor pela amizade entre dois indivíduos. Fala por si só o coração que se volta para Quem o criou.
No drama de nossa existência, encontramos Alguém que se apresenta a nós e nos revela o seu coração. Dá, por assim dizer, o próprio coração a nós e esse coração "grita de amor". O Verbo feito carne entra na história humana, e une o seu coração divino com o coração da criatura, tal evento extraordinário jamis poderíamos imaginar. O Absoluto inclina o seu coração até nós e partilha da angústia que somente o coração humano é capaz de sentir. Sente na pele a dor da rejeição, o desprezo dos seus e a angústia suprema da morte que engole a humanidade limitada. Partilha o seu coração com o nosso coração e vivencia a condição humana em todas as suas facetas, menos a pior delas que é o pecado. Este coração grita! Mas o que grita mesmo é o sinal do amor por nós. Do alto da cruz nos olha um Homem aparentemente fracassado, abandonado e angustiado, sofredor e paciente da brutalidade humana. Do alto da cruz o coração manso e humilde se derrama de amor e comunica o cerne de sua missão: " Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância." (Joao 10, 10) O amor é seu objeto e como diz São Bernardo de Claraval, " a recompensa do amor é o ato de amar, pois só não quer mais nada a não ser amar." Ama porque ama, ama para amar. Somente recebendo este dom que vem do seu amor infinito, temos capacidade para retribuirmos tal amor.
O Papa Bento disse certa vez que,"...o ser humano vive porque é amado e pode amar; e se até no espaço da morte penetrou o amor, então também lá chegou a vida. Na hora da extrema solidão nunca estaremos sozinhos"
Chegou até nós o amor de Deus,tornou-se palpável o contato pessoal com este amor, e por ele amamos os demais.
O coração de Cristo fala ao nosso coração e Ele espera que o nosso coração se dirija a Ele com sinceridade. Não sejamos falsos, não usemos máscaras, não nos escondamos. O tempo da mentira já passou, agora a verdade que se impõe por si mesma nos coloca no trilho da honestidade conosco e com os outros: não tenho medo, pois comigo caminha Aquele que se dignou a assumir a minha humanidade decaída e desejou ardentemente ser meu amigo, meu companheiro de viajem, meu Deus e meu Senhor.
Que o coração de Cristo continue nos falando, e que o nosso coração esteja atento a sua voz.
Assim seja!
Ass: Sem. Rafael Viana Lima
II ano de Filosofia do Seminário São José - RJ
Pensamentos de Santo Agostinho:Grande Padre da Igreja (Séc. IV)
O orgulho é a fonte de todas as fraquezas, por que é a fonte de todos os vícios.
A angústia de ter perdido, não supera a alegria de ter um dia possuído
Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.
Dois homens olharam através das grades da prisão;
um viu a lama, o outro as estrelas.
Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem.
A medida do amor é amar sem medida.
O dom da fala foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros, mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros.
Tarde Vos amei,
ó Beleza tão antiga e tão nova,
tarde Vos amei!
Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu, lá fora, a procurar-Vos!
Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes.
Estáveis comigo e eu não estava Convosco!
Retinha-me longe de Vós
aquilo que não existiria,
se não existisse em Vós.
Porém, chamastes-me,
com uma voz tão forte,
que rompestes a minha Surdez!
Brilhastes, cintilastes,
e logo afugentastes a minha cegueira!
Exalastes Perfume:
respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por Vós.
Saboreei-Vos
e, agora, tenho fome e sede de Vós.
Tocastes-me
e ardi, no desejo da Vossa Paz"
O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página.
Há pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade; outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade; outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe; outras, para serem edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem os outros, e isso é caridade"
Com o coração se pede. Com o coração se procura. Com o coração se bate e é com o coração que a porta se abre.
Se não podes entender, crê para que entendas. A fé precede, o intelecto segue.
Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos.
Fizeste-nos, Senhor, para ti, e o nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em ti.
Na procura de DEUS é ELE quem se adianta e vem ao nosso encontro.
As pessoas viajam para admirar a altura das montanhas, as imensas ondas dos mares, o longo percurso dos rios, o vasto domínio do oceano, o movimento circular das estrelas, e no entanto elas passam por si mesmas sem se admirarem.
Deus não será maior se o respeitas, mas tu serás maior se o servires.
O supérfluo dos ricos é propriedade dos pobre.
É o olhar característico do amor que torna a pessoa sensível e atenta para perceber os sinais e demonstrações de afeto, por mais pequenos que sejam ou que aparentemente assim o sejam, que fazem nascer no coração um fundamental sentido de reconhecimento em relação a vida, aos outros, a Deus.
Aquele que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar.
... conhece-se melhor a Deus na ignorância.
Tenho mais compaixão do homem que se alegra no vício, do que pena de quem sofre a privação de um prazer funesto e a perda de uma feliceidade ilusória"
Necessitamos um do outro, para sermos nós mesmos.
Tão cegos são os homens, que chegam a gloriar-se da própria cegueira!"
Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti.
O pecado é, amor de si mesmo, até o desprezo de Deus.
Quereis cantar louvores a Deus? Sede vós mesmos o canto que ides cantar. Vós sereis o seu maior louvor, se viverdes santamente.
"Dois homens olharam através das grades da prisão;
um viu a lama, o outro as estrelas".
Deus ë mais íntimo a nós que nós mesmos .
O coração delicado sofre menos das feridas que recebe do que das que faz..."
A infância que já não existe presentemente, existe no passado que já não é.
Quando o amor é grande, o medo não é menor.
Na essência somos iguais, nas diferenças nos respeitamos.
Pois o Deus Todo-Poderoso, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir nas suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal.
Não basta fazer coisas boas - é preciso fazê-las bem.
Nada estará perdido enquanto estivermos em busca.
O mundo é um livro, e aqueles que não viajam lêem somente uma página.
Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você.
A função do Mal consiste em salientar mais nitidamente o Bem.
O dom da fala foi concedido aos homens não para que eles enganassem uns aos outros,
mas sim para que expressassem seus pensamentos uns aos outros.
Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, porque você irá perder um amigo; por outro lado, se dois estranhos pedirem o mesmo, aceite, porque você irá ganhar um amigo.
Ter fé é acreditar naquilo que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita.
Biografia do Bem Aventurado Jonh Henry Newmam
Todas são também tão numerosas e tão diferentes umas das outras, que, no fim, o motivo originário e primordial pode chegar a nos parecer quase insignificante e secundário.
Cardeal Diácono de São George em Velabro, autor sagrado, filósofo, homem de letras, líder do Movimento Tractariano, e o mais ilustre converso inglês à Igreja.
Nascido na Cidade de Londres, em 21 de fevereiro de 1801, o mais velho de seis irmãos, três homens e três mulheres; morreu em Edgbaston, Birmingham, em 11 de agosto de 1890. Houveram certas discussões sobre sua ascendência com respeito a seu lado paterno.
Seu pai foi John Newman, um banqueiro, sua mãe Jemima Fourdrinier, de uma família Hugonote estabelecida em Londres como cinzeladores e fabricantes de papel.
Sabe-se que o sobrenome era escrito "Newmann"; está claro que muitos judeus, ingleses ou estrangeiros, o levaram, e a insinuação era que o cardeal era de ascendência judaica.
Mas não encontraram nenhuma evidência documentaria para confirmar tal idéia. Sua linhagem francesa é inegável. Recebeu de sua mãe seu treinamento religioso, um Calvinismo modificado; e provavelmente ajudou à "concisão lúcida" de suas palavras quando tratava de temas abstrusos.
Seu irmão Francis William, também escritor, mas carente de elegância literária, separou-se da Igreja Inglesa para aderir-se ao Deísmo; Charles Robert, o segundo irmão, era bastante errático e professava o ateísmo.
Uma das irmãs, Mary, morreu jovem; Jemina tem um lugar na biografia do cardeal durante a crise de sua carreira anglicana; e estamos em dívida com uma filha de Harriet, Anne Mozley, pelas "Cartas e Correspondência" de 1845, que contêm uma seqüela das próprias mãos do cardeal Newman da "Apologia" Clássica desde o dia em que foi completada, a "Apologia" será sempre a principal autoridade dos primeiros pensamentos de Newman, e de seu conceito sobre o grande ressurgimento religioso, conhecido como Movimento de Oxford, do qual foi o guia o filósofo e o mártir.
Sua imensa correspondência, da qual a maior parte permanece sem ser publicada, não pode mudar essencialmente nossa estiva para quem, ainda que sutil ao grau de marginar o refinamento, foi também impulsivo e aberto com seus amigos, assim como enérgico em suas posições com o público. De tudo o que conhecemos dele, podemos deduzir que a grandeza de Newman consistia na união de originalidade, que chegava a uma genialidade de primeira classe, e um caráter de grande profundidade espiritual, manifestadas em uma linguagem de perfeita harmonia e ritmo, em uma energia que tão freqüentemente criou seitas ou Igrejas, e em uma personalidade não menos arrebatadora quanto sensível.
Entre as estrelas literárias de seu tempo Newman se distingue pelo puro resplendor cristão que brilha em sua vida e escritos. Ele é o inglês da era que manteve o antigo credo com uma sabedoria que só os teólogos possuem, com uma força shakespeariana de estilo, e um fervor próprio dos santos.
É esta combinação única a que o eleva sobre os pregadores católicos de vinitate mundi, como Thackeray, e que o outorga um lugar aparte de Tnnyson e Browning. Em comparação a ele Keble é uma luz de sexta magnitude; Pusey, um professor devoto, Lidon, um menos eloqüente Lacordaire. Newman ocupa no século XIX uma posição semelhante à do Bispo Butler no XVIII.
Se Butler é o paládio cristão contra o deísmo, então Newman é o apologista católico em uma época de agnosticismo, rodeada pelas teorias da evolução. Ele é, alem disso, um poeta, e seu "Sonho de Gerontio" ("Dreams of Gerontius") avantaja cem vezes mais o verso meditativo dos poetas modernos por seu claro-escuro de símbolos e cenas dramáticas do mundo visto atrás do véu./
Foi educado desde sua infância em deleitar-se com a leitura da Bíblia, mas carecia de convicções religiosas formadas até que completou quinze anos. Costumava desejar que os contos das mil e uma noites fossem verdadeiros; sua mente discorria com influências desconhecidas; pensava que a vida era possivelmente um sonho, que ele era um anjo, e que seus amigos anjos o estariam enganando com a aparência de um mundo material. Era "muito supersticioso" e tinha medo do escuro.
Aos quinze anos se "converteu", ainda que não praticasse muito os Evangelhos; das obras da escola de Calvino, obteve suas idéias dogmáticas definitivas, enquanto descansava "no pensamento de dois e somente dois absolutos e luminosos seres evidentes a todas as luzes, eu mesmo e meu Criador".
Em outras palavras, a personalidade se converteu na verdade primeira de sua filosofia; sem se importar com a lei, a razão ou a experiência dos sentidos. Daqui em diante, Newman foi um místico cristão, e como tal permaneceu. Dos escritos de Thomas Scott de Aston Sandford, "a quem, humanamente falando", disse, "Quase devo a minha alma" , aprendeu a doutrina da Trindade, apoiando cada frase do Credo Atanasiano com textos da Escritura.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Missa "Ressuscitou" Comunidade Católica Shalom. Canto de Entrada: Ressuscitou
Novo dia surgiu
e o povo que andava nas trevas viu
uma intensa luz, teu clarão
tua glória... a resplandecer,
Novo povo a trilhar
um caminho aberto por tuas mãos
Obra nova enfim
já podemos ver, nova criação
Somos nos este povo alcançado por tua luz
fruto da tua obra na cruz
(Refrão)
O Senhor nosso Deus
que merece o louvor, todo nosso amor
É o Rei que venceu, ao Cordeiro
a vitória, o poder, honra e glória (2x)
Ressuscitou, ressuscitou
Um só povo, um só corpo, um só canto pra Teu louvor
Tua Igreja, tua esposa celebrar o Teu amor
Soberano, Majestoso, Glorioso, Vencedor
Todos juntos, povo em festa
num banquete que não findará
Kyrie Eleison
Como a ovelha perdida, pelo pecado ferida
Eu te suplico perdão, ó bom pastor.
Kyrie Eleison (x3)
Como o ladrão perdoado, encontro o paraíso ao teu lado
Lembra-te de mim, pecador por tua cruz.
Christe Eleison (x3)
Como a pecadora caída, derramo aos teus pés minha vida
vê as lagrimas do meu coração e salva-me!
Kyrie Eleison (x3)
Glória
Glória, glória a Deus nas alturas
Ô ô glória,
E a nós, a sua paz
Senhor deus rei dos céus, deus pai onipotente
Vos louvamos, bendizemos, adoramos
Nós vos glorificamos, e nós vos damos graças
Por vossa imensa glória
(Refrão)
Jesus cristo senhor deus, filho único do pai
Cordeiro de deus que tirais o pecado do mundo
Tende piedade
Vós que estais à direita do pai
Tende piedade de nós
Vós que tirais o pecado do mundo
Tende piedade, acolhei a nossa súplica
(Refrão)
Só vós sois o santo, o senhor, o altíssimo
Só vós, jesus cristo
Com o espirito santo e o pai.
Em sua...
Salmo Responsorial 121 (122) Que a paz esteja em ti!
Que a Paz habite em tua casa,
Que a paz esteja em ti (bis)
Que alegria quando ouvi que me disseram,
Vamos a casa do Senhor!
E agora nossos pés já se detém,
Jerusalém em tuas, tuas portas.
Jerusalém cidade bem edificada,
tua beleza e esplendor,
para lá sobem as tribos de Israel,
As tribos do Senhor, do Senhor!
Rogai à Deus que vive em paz Jerusalém,
em segurança os que te amam,
que a paz habite dentro dos teus muros,
tranqüilidade em teus palácios.
Por amor à meus irmãos e à meus amigos
peço que a paz esteja em ti
pelo amor que tenho a casa do Senhor,
eu te desejo todo bem, todo bem!
Aclamação ao Santo Evangelho: Ao ouvir tua voz
Ofertório: Estar em tuas mãos
Mãos na terra e o coração além deste céu,
E a semente que brota é um germe de eternidade
Vai brotando, crescendo, esperando
É a vida que vem despontar
E este trigo maduro, a colheita o recolherá
Estar em tuas mãos, ó Pai
E a vida ofertar
No pão e no vinho a Ti
O céu se abrirá
Estar em tuas mãos, Senhor
E a vida entregar
A minha oblação em Ti
Se perderá, frutificará.
Frutificará, frutificará, frutificará!
Da videira a flor não restará, passará
E o fruto da terra surgirá, brotará
Pela força do vento, da chuva
E do sol que traz vida e calor
Cada dia, crescendo e aprendendo a recomeçar.
Santo é o Senhor
Agnus Dei
Comunhão: Tu nos atraistes
Cada vez que comemos deste pão
o Teu corpo nos renova nesta comunhão
cada vez que bebemos deste vinho
o Teu sangue nos transforma
nesta comunhão de amor.
Quem come deste pão
viverá para sempre
só Tu tens palavras de vida, vida eterna
para onde ir longe de Ti
Tu nos atraístes oh Senhor, eis nos aqui.
Deus entre nós, holocausto de amor
eterna e nova aliança
em teu sangue elevado na cruz
cordeiro de Deus
Tu nos atraíste oh Senhor, nós somos teus.
Vimos ti Senhor que a glória refugir
em teu lado aberto encontramos plena paz
em teu corpo santo somos recriados
Tu nos atraístes oh Senhor, vivo estás.
A igreja tua esposa te espera com ardor
alimento de eternidade o teu corpo
nesta comunhão banquete do céu
Tu nos atraístes oh Senhor, eterno bem.
Ação de Graças: Nosso hino de amor
Aqui estamos diante de Ti
e nos prostramos para adorar
Senhor Deus, do universo
Soberano entre as nações.
A Ti rendemos todo louvor
são incontáveis os teus feitos de amor
que alegria adorar-te
nosso amado Rei Senhor
Jesus, Jesus,
Filho de Deus ressuscitado
Que passou pela cruz
Recebe o nosso hino de amor
Amado Salvador
Tudo que temos, queremos te dar
Tudo que somos então derramar
Aos teus pés, qual perfume
Exalando o amor
Que suave, se entrega.
Perdemos nossa vida em Ti.
E assim cantaremos para sempre, Santo,
Santo, Santo é o Senhor
Santo (3x) a Ti a honra, a glória e o louvor
Santo (3x) mereces todo o nosso amor
Santo (3x) recebe nossa gratidão
Santo (3x) nossa vida seja adoração
Santo (2x) Tu és Santo, Tu és Santo!
Santo (2x) Recebe o nosso hino de amor
A Ti a nossa adoração o nosso louvor
Recebe o nosso hino de amor!
Santo, Santo é Senhor
Santo (3x) És tu Senhor
Santo (3x)
Discurso do Papa Bento XVI aos Bispos do Leste 1
Venerados Irmãos no Episcopado,
Dou-vos as boas-vindas, feliz por receber-vos a todos no curso da visita ad limina Apostolorum que estais fazendo em nome e a favor das vossas dioceses do Regional Leste 1, para reforçar os laços que as unem ao Sucessor de Pedro. Disto mesmo se fez eco Dom Rafael Cifuentes nas palavras de saudação que me dirigiu em vosso nome e que lhe agradeço, muito apreciando as preces que dia a dia se elevam ao Céu por mim e pela Igreja inteira das várias comunidades familiares, paroquiais, religiosas e diocesanas das províncias eclesiásticas do Rio de Janeiro e de Niterói. Sobre todos e cada um desça, radiosa, a benevolência do Senhor: Ele «faça brilhar sobre ti a sua face, e Se compadeça de ti. O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz» (Nm 6, 25-26).
Sim, amados Irmãos, o fulgor de Deus irradie de todo o vosso ser e vida, à semelhança de Moisés (cf. Ex 34, 29.35) e mais do que ele, pois agora todos nós «refletimos a glória do Senhor e, segundo esta imagem, somos transformados, de glória em glória, pelo Espírito do Senhor» (2 Cor 3, 18). Assim o sentiam os Padres conciliares quando, no fim do Vaticano II, apresentam a Igreja nestes termos: «Rica de um longo passado sempre vivo, e caminhando para a perfeição humana no tempo e para os destinos últimos da história e da vida, ela é a verdadeira juventude do mundo. (…) Olhai-a e encontrareis nela o rosto de Cristo, o verdadeiro herói, humilde e sábio, o profeta da verdade e do amor, o companheiro e o amigo dos jovens» (Mensagem do Concílio à humanidade: Aos jovens). Deixando transparecer o rosto de Cristo, a Igreja é a juventude do mundo.
Mas será muito difícil convencer alguém disso mesmo, se não se revê nela a geração jovem de hoje. Por isso, como certamente vos destes conta, um tema habitual nos meus colóquios convosco é a situação dos jovens na respectiva diocese. Confiado na providência divina que amorosamente preside aos destinos da história não cessando de preparar os tempos futuros, apraz-me ver raiar o dia de amanhã nos jovens de hoje. Já o Venerável Papa João Paulo II, vendo Roma tornar-se «jovem com os jovens» no ano 2000, saudou-os como «as sentinelas da manhã» (Carta ap. Novo millennio ineunte, 9; cf.Homilia na Vigília de Oração da XV Jornada Mundial da Juventude, 19/VIII/2000, 6), com a tarefa de despertar os seus irmãos para se fazerem ao largo no vasto oceano do terceiro milênio. E, a comprová-lo, para além do mais aflui à memória a imagem das longas filas de jovens que esperavam para se confessar no Circo Máximo e que voltaram a dar a muitos sacerdotes a confiança no sacramento da Penitência.
Como bem sabeis, amados Pastores, o núcleo da crise espiritual do nosso tempo tem as suas raízes no obscurecimento da graça do perdão. Quando este não é reconhecido como real e eficaz, tende-se a libertar a pessoa da culpa, fazendo com que as condições para a sua possibilidade nunca se verifiquem. Mas, no seu íntimo, as pessoas assim «libertadas» sabem que isso não é verdade, que o pecado existe e que elas mesmas são pecadoras. E, embora algumas linhas da psicologia sintam grande dificuldade em admitir que, entre os sentidos de culpa, possa haver também os devidos a uma verdadeira culpa, quem for tão frio que não prove sentimentos de culpa nem sequer quando deve, procure por todos os meios recuperá-los, porque no ordenamento espiritual são necessários para a saúde da alma. De fato Jesus veio salvar, não aqueles que já se libertaram por si mesmos pensando que não têm necessidade d’Ele, mas quantos sentem que são pecadores e precisam d’Ele (cf. Lc 5, 31-32).
A verdade é que todos nós temos necessidade d’Ele, como Escultor divino que remove as incrustações de pó e lixo que se pousaram sobre a imagem de Deus inscrita em nós. Precisamos do perdão, que constitui o cerne de toda a verdadeira reforma: refazendo a pessoa no seu íntimo, torna-se também o centro da renovação da comunidade. Com efeito, se forem retirados o pó e o lixo que tornam irreconhecível em mim a imagem de Deus, torno-me verdadeiramente semelhante ao outro, que é também imagem de Deus, e sobretudo torno-me semelhante a Cristo, que é a imagem de Deus sem defeito nem limite algum, o modelo segundo o qual todos nós fomos criados. São Paulo exprime isto de modo muito concreto: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20). Sou arrancado ao meu isolamento e acolhido numa nova comunidade-sujeito; o meu «eu» é inserido no «eu» de Cristo e assim é unido ao de todos os meus irmãos. Somente a partir desta profundidade de renovação do indivíduo é que nasce a Igreja, nasce a comunidade que une e sustenta na vida e na morte. Ela é uma companhia na subida, na realização daquela purificação que nos torna capazes da verdadeira altura do ser homens, da companhia com Deus. À medida que se realiza a purificação, também a subida – que ao princípio é árdua – vai-se tornando cada vez mais jubilosa. Esta alegria deve transparecer cada vez mais da Igreja, contagiando o mundo, porque ela é a juventude do mundo.
Venerados irmãos, uma tal obra não pode ser realizada com as nossas forças, mas são necessárias a luz e a graça que provêm do Espírito de Deus e agem no íntimo dos corações e das consciências. Que elas vos amparem a vós e às vossas dioceses na formação das mentes e dos corações. Levai a minha saudação afetuosa aos vossos jovens e respectivos animadores sacerdotais, religiosos e laicais. Ergam o olhar para a Imaculada Conceição, Nossa Senhora Aparecida, a cuja proteção vos entrego, e de coração concedo-vos, extensiva a todos os vossos fiéis diocesanos, a Bênção Apostólica.
Fonte: Santa Sé
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
4. Meditação diante do Ícone do Santo Sudário
Queridos amigos!
Para mim, este é um momento muito esperado. Estive diante do Santo Sudário noutras ocasiões, mas desta vez vivo esta peregrinação e esta reflexão com intensidade particular: talvez porque o passar dos anos me torna ainda mais sensível à mensagem deste extraordinário Ícone; talvez, diria sobretudo, porque estou aqui como Sucessor de Pedro e trago no meu coração toda a Igreja, aliás, toda a humanidade. Dou graças a Deus pelo dom desta peregrinação e também pela oportunidade de partilhar convosco uma breve meditação, que me foi sugerida pelo subtítulo desta solene Ostensão: "O mistério do Sábado Santo".
Pode-se dizer que o Sudário é o Ícone deste mistério, o Ícone do Sábado Santo. De fato, é um lençol sepulcral, que envolveu o corpo de um homem crucificado totalmente correspondente a quanto os Evangelhos nos dizem de Jesus, o qual, crucificado por volta do meio-dia, expirou aproximadamente às três da tarde. Ao anoitecer, porque era Parasceve, isto é a vigília do sábado solene de Páscoa, José de Arimateia, um rico e competente membro do Sinédrio, pediu corajosamente a Pôncio Pilatos para poder sepultar Jesus no seu sepulcro novo, que tinha sido escavado na rocha a pouca distância do Gólgota. Ao obter a autorização, comprou um lençol e, deposto o corpo de Jesus da cruz, envolveu-o com o lençol e colocou-o naquele túmulo (cf. Mc 15, 42-46). Assim refere o Evangelho de Marcos, e com ele concordam os outros Evangelistas. A partir daquele momento, Jesus permaneceu no sepulcro até ao alvorecer do dia seguinte que era sábado, e o Sudário de Turim oferece-nos a imagem de como era o seu corpo estendido no túmulo durante aquele tempo, que foi breve cronologicamente (cerca de um dia e meio), mas imenso, infinito no seu valor e significado.
O Sábado Santo é o dia do escondimento de Deus, como se lê numa antiga Homilia: "O que aconteceu? Hoje sobre a terra há um grande silêncio, grande silêncio e solidão. Grande silêncio porque o Rei dorme... Deus morreu na carne e desceu para abalar o reino dos infernos" (Homilia sobre o Sábado Santo, pg 43, 439). No Credo, nós professamos que Jesus Cristo "padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia".
Queridos irmãos, no nosso tempo, especialmente depois de ter atravessado o século passado, a humanidade tornou-se particularmente sensível ao mistério do Sábado Santo. O escondimento de Deus faz parte da espiritualidade do homem contemporâneo, de maneira existencial, quase inconsciente, como um vazio no coração que se foi alargando cada vez mais. No final do século XIX, Nietzsche escreveu: "Deus está morto! E quem o matou fomos nós!". Esta célebre expressão, observando bem, é tomada quase ao pé da letra da tradição cristã, frequentemente a repetimos na Via-Sacra, talvez sem nos darmos conta plenamente do que dizemos. Depois de duas guerras mundiais, os lager e os gulag, Hiroshima e Nagasaki, a nossa época tornou-se um Sábado Santo em medida cada vez maior: a escuridão desse dia interpela todos os que se questionam sobre a vida, de modo particular interpela a nós, crentes. Também nós somos responsáveis por esta escuridão.
E, no entanto, a morte do Filho de Deus, de Jesus de Nazaré tem um aspecto oposto, totalmente positivo, fonte de consolação e de esperança. Isto faz-me pensar no fato de que o Santo Sudário se comporta como um documento "fotográfico", dotado de um "positivo" e de um "negativo". Com efeito, é exatamente assim: o mistério mais obscuro da fé, ao mesmo tempo, é o sinal mais luminoso de uma esperança que não tem confim. O Sábado Santo é a "terra de ninguém" entre a morte e a ressurreição, mas nesta "terra de ninguém" entrou Um, o Único, que a atravessou com os sinais da sua Paixão pelo homem: "Passio Christi. Passio hominis". O Sudário fala-nos precisamente deste momento, está a testemunhar aquele intervalo único e irrepetível na história da humanidade e do universo, no qual Deus, em Jesus Cristo, partilhou não só o nosso morrer, mas inclusive o nosso permanecer na morte. A solidariedade mais radical.
Naquele "tempo-além-do-tempo" Jesus Cristo "desceu à mansão dos mortos". O que significa esta expressão? Quer dizer que Deus, feito homem, chegou até ao ponto de entrar na solidão extrema e absoluta do homem, onde não chega raio de amor algum, onde reina o abandono total sem palavra de conforto alguma: "mansão dos mortos". Jesus Cristo, permanecendo na morte, ultrapassou a porta desta solidão última para nos guiar também a nós a ultrapassá-la com Ele. Todos nós sentimos algumas vezes uma sensação assustadora de abandono, e o que mais nos assusta é precisamente isto, como quando somos crianças, temos medo de estar sozinhos no escuro e só a presença de uma pessoa que nos ama pode dar-nos segurança. Aconteceu exatamente isto no Sábado Santo: no reino da morte ressoou a voz de Deus. Sucedeu o impensável: ou seja, que o Amor penetrou "na mansão dos mortos": também no escuro extremo da solidão humana mais absoluta nós podemos escutar uma voz que nos chama e encontrar alguém que nos pega pela mão e nos conduz para fora. O ser humano vive porque é amado e pode amar; e se até no espaço da morte penetrou o amor, então também lá chegou a vida. Na hora da extrema solidão nunca estaremos sozinhos: "Passio Christi. Passio hominis".
Este é o mistério do Sábado Santo! Exactamente do escuro da morte do Filho de Deus brilhou a luz de uma esperança nova: a luz da Ressurreição. E eis que, parece-me, olhando para este Santo Lençol com os olhos da fé se perceba algo desta luz. Com efeito, o Sudário foi imerso naquela escuridão profunda, mas ao mesmo tempo é luminoso; e eu penso que se milhões e milhões de pessoas vêm venerá-lo – sem contar quantos o contemplam através das imagens – é porque nele não vêem só a escuridão, mas também a luz; não tanto a derrota da vida e do amor, mas ao contrário, a vitória, a vitória da vida sobre a morte, do amor sobre o ódio; vêem a morte de Jesus mas entrevêem a sua Ressurreição; agora a vida pulsa no seio da morte, porque lá inabita o amor. Este é o poder do Sudário: do rosto deste "Homem do sofrimento", que traz em si a paixão do homem de todos os tempos e lugares, também as nossas paixões, os nossos sofrimentos, as nossas dificuldades, os nossos pecados – "Passio Christi. Passio hominis" – promana uma solene majestade, um senhorio paradoxal. Este rosto, estas mãos e estes pés, este lado, todo este corpo fala, ele próprio é uma palavra que podemos escutar no silêncio. De que modo fala o Sudário? Fala com o sangue, e o sangue é a vida! O Sudário é um Ícone escrito com o sangue; sangue de um homem flagelado, coroado de espinhos, crucificado e ferido no lado direito. A imagem impressa no Sudário é a de um morto, mas o sangue fala da sua vida. Cada traço de sangue fala de amor e de vida. Especialmente a mancha abundante próxima do lado, feita de sangue e água derramados abundantemente de uma grande ferida causada por um golpe de lança romana, aquele sangue e aquela água falam de vida. É como uma fonte que murmura no silêncio, e nós podemos ouvi-la, podemos escutá-la, no silêncio do Sábado Santo.
Queridos amigos, louvemos sempre o Senhor pelo seu amor fiel e misericordioso. Partindo deste lugar santo, levemos nos olhos a imagem do Sudário, levemos no coração esta palavra de amor e louvemos a Deus com uma vida plena de fé, de esperança e de caridade. Obrigado.
3. Homilia do Santo Padre, Bento XVI, na Noite Santa do Natal de 2008
«Quem se compara ao Senhor, nosso Deus, que tem o seu trono nas alturas e Se inclina lá do alto a olhar os céus e a terra?» Assim canta Israel num dos seus Salmos (113/112, 5s.), onde exalta simultaneamente a grandeza de Deus e sua benigna proximidade dos homens. Deus habita nas alturas, mas inclina-Se para baixo… Deus é imensamente grande e está incomparavelmente acima de nós. Esta é a primeira experiência do homem. A distância parece infinita. O Criador do universo, Aquele que tudo guia, está muito longe de nós: assim parece ao início. Mas depois vem a experiência surpreendente: Aquele que não é comparável a ninguém, que «está sentado nas alturas», Ele olha para baixo. Inclina-se para baixo. Ele vê-nos a nós, e vê-me a mim. Este olhar de Deus para baixo é mais do que um olhar lá das alturas. O olhar de Deus é um agir. O facto de Ele me ver, me olhar, transforma-me a mim e o mundo ao meu redor. Por isso logo a seguir diz o Salmo: «Levanta o pobre da miséria…» Com o seu olhar para baixo, Ele levanta-me, toma-me benignamente pela mão e ajuda-me, a mim próprio, a subir de baixo para as alturas. «Deus inclina-Se». Esta é uma palavra profética; e, na noite de Belém, adquiriu um significado completamente novo. O inclinar-Se de Deus assumiu um realismo inaudito, antes inimaginável. Ele inclina-Se: desce, Ele mesmo, como criança na miséria do curral, símbolo de toda a necessidade e estado de abandono dos homens. Deus desce realmente. Torna-Se criança, colocando-Se na condição de dependência total, própria de um ser humano recém-nascido. O Criador que tudo sustenta nas suas mãos, de Quem todos nós dependemos, faz-Se pequeno e necessitado do amor humano. Deus está no curral. No Antigo Testamento, o templo era considerado quase como o estrado dos pés de Deus; a arca santa, como o lugar onde Ele estava misteriosamente presente no meio dos homens. Deste modo sabia-se que sobre o templo, escondida, estava a nuvem da glória de Deus. Agora, está sobre o curral. Deus está na nuvem da miséria de uma criança sem lugar na hospedaria: que nuvem impenetrável e, no entanto, nuvem da glória! De fato, de que modo poderia aparecer maior e mais pura a sua predileção pelo homem, a sua solicitude por ele? A nuvem do encobrimento, da pobreza da criança totalmente necessitada do amor, é ao mesmo tempo a nuvem da glória. É que nada pode ser mais sublime e maior do que o amor que assim se inclina, desce, se torna dependente. A glória do verdadeiro Deus torna-se visível quando se abrem os nossos olhos do coração diante do curral de Belém.
A narração do Natal feita por São Lucas, que acabámos de ouvir no texto evangélico, conta-nos que Deus levantou um pouco o véu do seu encobrimento primeiro diante de pessoas de condição muito humilde, diante de pessoas que habitualmente eram desprezadas na grande sociedade: diante dos pastores que, nos campos ao redor de Belém, guardavam os animais. Lucas diz-nos que estas pessoas «velavam». Nisto podemos ouvir ressoar um motivo central da mensagem de Jesus, na qual volta, repetidamente e com crescente urgência até ao Jardim das Oliveiras, o convite à vigilância, a permanecer acordados para nos darmos conta da vinda do Senhor e estarmos preparados para ela. Por isso, também aqui talvez a palavra signifique algo mais do que o simples estar externamente acordados durante as horas nocturnas. Eram pessoas verdadeiramente vigilantes, nas quais estava vivo o sentido de Deus e da sua proximidade; pessoas que estavam à espera de Deus e não se resignavam com o aparente afastamento d’Ele na vida de cada dia. A um coração vigilante pode ser dirigida a mensagem da grande alegria: esta noite nasceu para vós o Salvador. Só o coração vigilante é capaz de crer na mensagem. Só o coração vigilante pode incutir a coragem de pôr-se a caminho para encontrar Deus nas condições de uma criança no curral. Peçamos ao Senhor para que nesta hora nos ajude, a nós também, a tornarmo-nos pessoas vigilantes.
São Lucas narra-nos ainda que os próprios pastores ficaram «envolvidos» pela glória de Deus, pela nuvem de luz, encontravam-se dentro do resplendor desta glória. Envolvidos pela nuvem santa ouvem o cântico de louvor dos anjos: «Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens por Ele amados». E quem são estes homens por Ele amados senão os pequenos, os vigilantes, aqueles que estão à espera, esperam na bondade de Deus e procuram-No olhando para Ele de longe?
Nos Padres da Igreja, é possível encontrar um comentário surpreendente ao cântico com que os anjos saúdam o Redentor. Até àquele momento – dizem os Padres – os anjos tinham conhecido Deus na grandeza do universo, na lógica e na beleza do cosmos que provêm d’Ele e O reflectem. Tinham acolhido por assim dizer o cântico de louvor mudo da criação e tinham-no transformado em música do céu. Mas agora acontecera um facto novo, até mesmo assombroso para eles. Aquele de quem fala o universo, o próprio Deus que tudo sustenta e traz na sua mão, Ele mesmo entrara na história dos homens, tornara-Se um que age e sofre na história. Do jubiloso assombro suscitado por este facto inconcebível, por esta segunda e nova maneira em que Deus Se manifestara – dizem os Padres – nasceu um cântico novo, tendo o Evangelho de Natal conservado uma estrofe para nós: «Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens». Talvez se possa dizer, segundo a estrutura da poesia hebraica, que este versículo nas suas duas frases diz fundamentalmente a mesma coisa, mas duma perspectiva diversa. A glória de Deus está no alto dos céus, mas esta sublimidade de Deus encontra-se agora no curral, aquilo que era humilde tornou-se sublime. A sua glória está sobre a terra, é a glória da humildade e do amor. Mais ainda: a glória de Deus é a paz. Onde está Ele, lá está a paz. Ele está lá onde os homens não querem fazer, de modo autónomo, da terra o paraíso, servindo-se para tal fim da violência. Ele está com as pessoas de coração vigilante; com os humildes e com aqueles que correspondem à sua elevação, à elevação da humildade e do amor. A estes dá a sua paz, para que, por meio deles, entre a paz neste mundo.
O teólogo medieval Guilherme de S. Thierry disse uma vez: Deus viu, a partir de Adão, que a sua grandeza suscitava no homem resistência; que o homem se sente limitado no ser ele próprio e ameaçado na sua liberdade. Portanto Deus escolheu um caminho novo. Tornou-Se um Menino. Tornou-Se dependente e frágil, necessitado do nosso amor. Agora – diz-nos aquele Deus que Se fez Menino – já não podeis ter medo de Mim, agora podeis apenas amar-Me.
É com tais pensamentos que, esta noite, nos aproximamos do Menino de Belém, daquele Deus que por nós quis fazer-Se criança. Em cada criança, há o revérbero do Menino de Belém. Cada criança pede o nosso amor. Pensemos, pois, nesta noite de modo particular também naquelas crianças às quais é recusado o amor dos pais; nos meninos da rua que não têm o dom de um lar doméstico; nas crianças que são brutalmente usadas como soldados e feitas instrumentos da violência, em vez de poderem ser portadores da reconciliação e da paz; nas crianças que, através da indústria da pornografia e de todas as outras formas abomináveis de abuso, são feridas até ao fundo da sua alma. O Menino de Belém é um renovado apelo que nos é dirigido para fazermos tudo o que for possível a fim de que acabe a tribulação destas crianças; para fazermos tudo o que for possível a fim de que a luz de Belém toque os corações dos homens. Somente através da conversão dos corações, somente através de uma mudança no íntimo do homem se pode superar a causa de todo este mal, pode ser vencido o poder do maligno. Somente se mudarem os homens é que muda o mundo e, para os homens mudarem, precisam da luz que vem de Deus, daquela luz que de modo tão inesperado entrou na nossa noite.
E falando do Menino de Belém, pensemos também na localidade que responde ao nome de Belém; pensemos naquela terra onde Jesus viveu e que Ele amou profundamente. E peçamos para que lá se crie a paz. Que cessem o ódio e a violência. Que desperte a compreensão recíproca, se realize uma abertura dos corações que abra as fronteiras. Que desça a paz que os anjos cantaram naquela noite.
No Salmo 96/95, Israel e, com ele, a Igreja louvam a grandeza de Deus que se manifesta na criação. Todas as criatura são chamadas a aderir a este cântico de louvor, encontrando-se lá também este convite: «Alegrem-se as árvores da floresta, diante do Senhor que vem» (12s.). A Igreja lê este Salmo também como um profecia e simultaneamente uma missão. A vinda de Deus a Belém foi silenciosa. Somente os pastores que velavam foram por uns momentos envolvidos no esplendor luminoso da sua chegada e puderam ouvir uma parte daquele cântico novo que brotara da maravilha e da alegria dos anjos pela vinda de Deus. Esta vinda silenciosa da glória de Deus continua através dos séculos. Onde há fé, onde a sua palavra é anunciada e escutada, Deus reúne os homens e dá-Se-lhes no seu Corpo, transforma-os no seu Corpo. Ele «vem». E assim desperta o coração dos homens. O cântico novo dos anjos torna-se cântico dos homens que, ao longo de todos os séculos, de forma sempre nova cantam a vinda de Deus como Menino e, a partir do seu íntimo, tornam-se felizes. E as árvores da floresta vão até Ele e exultam. A árvore na Praça de São Pedro fala d’Ele, quer transmitir o seu esplendor e dizer: Sim, Ele veio e as árvores da floresta aclamam-No. As árvores nas cidades e nas casas deveriam ser algo mais do que um costume natalício: indicam Aquele que é a razão da nossa alegria – o próprio Deus que vem, o Deus que por nós Se fez menino. O cântico de louvor, no mais fundo, fala enfim d’Aquele que é a própria árvore da vida reencontrada. Pela fé n’Ele, recebemos a vida. No sacramento da Eucaristia, dá-Se a nós: dá uma vida que chega até à eternidade. Nesta hora, juntamo-nos ao cântico de louvor da criação e o nosso louvor é ao mesmo tempo uma oração: Sim, Senhor, fazei-nos ver algo do esplendor da vossa glória. E dai a paz à terra. Tornai-nos homens e mulheres da vossa paz. Amen.
2. Homilia do Santo Padre na Vigília Pascal de 2010
Amados irmãos e irmãs
Uma antiga lenda judaica, tirada do livro apócrifo “A vida de Adão e Eva”, conta que Adão, durante a sua última enfermidade, teria mandado o filho Set juntamente com Eva à na região do Paraíso buscar o óleo da misericórdia, para ser ungido com este e assim ficar curado. Aos dois, depois de muito rezar e chorar à procura da árvore da vida, aparece o Arcanjo Miguel para dizer que não conseguiriam obter o óleo da árvore da misericórdia e que Adão deveria morrer. Mais tarde, os leitores cristãos adicionaram a esta comunicação do arcanjo, uma palavra de consolação. O Arcanjo teria dito que, depois de 5.500 anos, viria o benévolo Rei Cristo, o Filho de Deus, e ungiria com o óleo da sua misericórdia todos aqueles que acreditassem nele. “O óleo da misericórdia para toda a eternidade será dado a quantos deverão renascer da água e do Espírito Santo. Então, o Filho de Deus rico de amor, Cristo, descerá às profundezas da terra e conduzirá o teu pai ao Paraíso, para junto da árvore da misericórdia”. Nesta lenda, faz-se palpável toda a aflição do homem diante do destino de enfermidade, dor e morte que nos foi imposto. Torna-se evidente a resistência que o homem oferece à morte: em algum lugar – repetidamente pensaram os homens – deveria existir a erva medicinal contra a morte. Mais cedo ou mais tarde, deveria ser possível encontrar o remédio não somente contra as diversas doenças, mas contra a verdadeira fatalidade – contra a morte. Deveria, em suma, existir o remédio da imortalidade. Também hoje, os homens andam à procura de tal substância curativa. A ciência médica atual, incapaz de excluir a morte, procura, contudo, eliminar o maior número possível das suas causas, adiando-a sempre mais; procura uma vida sempre melhor e mais longa. Mas, pensemos um pouco: caso se conseguisse quiçá não excluir totalmente a morte mas adiá-la indefinidamente, como seria chegar a uma idade de várias centenas de anos? Isto seria bom? A humanidade envelheceria numa medida extraordinária; não haveria lugar para a juventude. A capacidade de inovação se apagaria e uma vida interminável não seria um paraíso, mas uma condenação. A verdadeira erva medicinal contra a morte deveria ser diversa. Não deveria levar simplesmente a uma prolongação indefinida desta vida atual. Deveria transformar a nossa vida a partir do interior. Deveria criar em nós uma vida nova, verdadeiramente capaz de eternidade: deveria transformar-nos de tal modo que não terminasse com a morte, mas com ela iniciasse em plenitude. A novidade impressionante da mensagem cristã, do Evangelho de Jesus Cristo era, e ainda é, dizer-nos isto: sim, esta erva medicinal contra a morte, este autêntico remédio da imortalidade existe. Foi encontrado. É acessível. No Batismo, este medicamento nos é dado. Uma vida nova começa em nós, uma vida nova que amadurece na fé e não é cancelada pela morte da vida velha, mas só então se tornará plenamente visível.
Ouvindo isto alguns, quiçá muitos, responderão: a mensagem sim, eu escuto, mas falta-me a fé. E, mesmo quem quer acreditar perguntará: mas, é verdadeiramente assim? Como devemos imaginá-la? Como se realiza esta transformação da vida velha, de tal modo que nela se forme a vida nova que não conhece a morte? Mais uma vez, um antigo escrito judaico pode nos ajudar a ter uma idéia daquele processo misterioso que tem início em nós no Batismo. Neste escrito se conta que o patriarca Henoc foi arrebatado até ao trono de Deus. Mas, ele se atemorizou à vista das gloriosas potestades angélicas e, na sua fraqueza humana, não pôde contemplar a Face de Deus. “Então Deus disse a Miguel – assim continua o livro de Henoc – 'Toma Henoc e tira-lhe as vestes terrenas. Unge-o com o óleo suave e reviste-o com vestes de glória! ' E, Miguel tirou as minhas vestes, ungiu-me com óleo suave; este óleo possuía algo mais que uma luz radiosa... O seu esplendor era semelhante aos raios do sol. Quando me vi, eis que eu era como um dos seres gloriosos” (Ph. Rech, Inbild des Kosmos, II 524).
Isto mesmo – ser revestidos com a nova veste de Deus – verivica-se Batismo; assim nos ensina a fé cristã. É verdade que esta mudança das vestes é um percurso que dura toda a vida. Aquilo que acontece no Batismo é o início de um processo que abarca toda a nossa vida –torna-nos capazes de eternidade, de tal modo que, na veste de luz de Jesus Cristo, podemos aparecer diante de Deus e viver com Ele para sempre.
No rito do Batismo, há dois elementos nos quais este evento se expressa e torna visível, também como exigência para o resto da nossa vida. Em primeiro lugar, temos o rito das renúncias e das promessas. Na Igreja Antiga, o batizando virava-se para ocidente, símbolo das trevas, do pôr do sol, da morte e, portanto, do domínio do pecado. O batizando virava-se para aquela direção e pronunciava um tríplice “não”: ao diabo, às suas pompas e ao pecado. Com a estranha palavra “pompas”, ou seja, o fausto do diabo, indicava-se o esplendor do antigo culto dos deuses e do antigo teatro, onde a diversão era ver pessoas vivas sendo dilaceradas pelas feras. Portanto, este “não” era o repúdio de um tipo de cultura que acorrentava o homem à adoração do poder, ao mundo da cobiça, à mentira, à crueldade. Era um ato de libertação da imposição de uma forma de vida que se apresentava como prazer e, contudo, levava à destruição daquilo que no homem são as suas qualidades melhores. Esta renúncia – com um comportamento menos dramático – constitui ainda hoje uma parte essencial do Batismo. Assim removemos as “vestes velhas”, com as quais não se pode estar diante de Deus. Melhor dito: começamos a depô-las. Com efeito, esta renúncia é uma promessa na qual damos a mão a Cristo, para que Ele nos guie e revista. Quais sejam as “vestes” que depomos e qual seja a promessa que pronunciamos fica claro quando lemos, no quinto capítulo da Carta aos Gálatas, aquilo que Paulo denomina “obras da carne” – termo que significa precisamente as vestes velhas que devem ser depostas. Paulo as designa assim: “fornicação, libertinagem, devassidão, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, intrigas, discórdias, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a essas” (Gal 5, 19ss). São estas as vestes que depomos; são vestes da morte.
Em seguida, o batizando na Igreja Antiga se virava para oriente – símbolo da luz, símbolo do novo sol da história, novo sol que se levanta, símbolo de Cristo. O batizando determina a nova direção da sua vida: a fé em Deus trino, a quem ele se oferece. Assim, o próprio Deus nos veste com o traje de luz, com a veste da vida. Paulo chama a estas novas “vestes” “fruto do Espírito” e as descreve com as seguintes palavras: “caridade, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, lealdade, mansidão, continência” (Gal 5, 22).
Na Igreja Antiga, depois o batizando era verdadeiramente despojado das suas vestes. Descia à fonte batismal e era imerso por três vezes – um símbolo da morte que significa toda a radicalidade deste despojamento e desta mudança de veste. Esta vida, que em todo o caso já está voltada à morte, o batizando a entrega à morte, junto com Cristo, e por Ele se deixa arrastar e elevar para a vida nova, que o transforma para a eternidade. Depois subindo das águas batismais, os neófitos eram revestidos com a veste branca, a veste luminosa de Deus, e recebiam a vela acesa como sinal da vida nova na luz que Deus mesmo acendera neles. Eles sabiam que tinham obtido o remédio da imortalidade, que agora, no momento de receber a sagrada Comunhão, tomava a sua forma plena. Na Comunhão, recebemos o Corpo do Senhor ressuscitado e nós mesmos somos atraídos para este Corpo, de tal modo que ficamos já guardados por Aquele que venceu a morte e nos conduz através da morte.
No decorrer dos séculos, os símbolos tornaram-se mais escassos, mas o acontecimento essencial do Batismo continue sendo o mesmo. Este não é apenas um lavacro, e menos ainda uma recepção um pouco complicada numa nova associação. O Batismo é morte e ressurreição, renascimento para a nova vida.
Sim, a erva medicinal contra a morte existe. Cristo é a árvore da vida, que se fez novamente acessível. Se aderimos a ele, então estamos na vida. Por isso, nesta noite da ressurreição, cantaremos com todo o coração o aleluia, o canto da alegria que não tem necessidade de palavras. Por isso Paulo pode dizer aos Filipenses: “alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos!” (Fl 4, 4). Não se pode comandar a alegria. Somente pode ser dada. O Senhor ressuscitado nos dá a alegria: a verdadeira vida. Já estamos protegidos para sempre guardados no amor daquele a quem foi dado todo o poder no céu e na terra (cf. Mt 28,18). Assim, seguros de ser escutados, peçamos como diz a oração sobre as oferendas que a Igreja eleva nesta noite: Acolhei, ó Deus, com estas oferendas as preces do vosso povo, para que a nova vida, que brota do mistério pascal, seja por vossa graça penhor da eternidade. Amém.
4 homilias inesquecíveis de Bento XVI: 1. HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA CONCELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA "IN CENA DOMINI" 2006
Queridos irmãos
no episcopado e no sacerdócio
Amados irmãos e irmãs!
"Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer.
Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece.
Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim.
"Vós estais limpos, mas não todos", diz o Senhor (Jo 13, 10).
Nesta frase revela-se o grande dom da purificação que Ele nos faz, porque deseja estar à mesa juntamente connosco, deseja tornar-se o nosso alimento. "Mas não todos" existe o obscuro mistério da recusa, que com a vicissitude de Judas nos torna presentes e, precisamente na Quinta-Feira Santa, no dia em que Jesus faz a oferenda de Si, nos deve fazer reflectir. O amor do Senhor não conhece limites, mas o homem pode pôr-lhe um limite.
"Vós estais limpos, mas não todos": o que é que torna o homem impuro? É a recusa do amor, o não querer ser amado, o não amar. É a soberba que julga não precisar de purificação alguma, que se fecha à bondade salvífica de Deus. É a soberba que não quer confessar nem reconhecer que precisamos de purificação. Em Judas vemos a natureza desta recusa ainda mais claramente. Ele avalia Jesus segundo as categorias do poder e do sucesso: para ele só o poder e o sucesso são realidades, o amor não conta. E ele é ávido: o dinheiro é mais importante do que a comunhão com Jesus, mais importante do que Deus e o seu amor. E assim torna-se também mentiroso, ambíguo e vira as costas à verdade; quem vive na mentira perde o sentido da verdade suprema, de Deus. Desta forma ele endurece-se, torna-se incapaz da conversão, da volta confiante do filho pródigo, e deita fora a vida destruída.
"Vós estais limpos, mas não todos". Hoje, o Senhor admoesta-nos perante aquela auto-suficiência que põe um limite ao seu amor ilimitado. Convida-nos a imitar a sua humildade, a confiar-nos a ela, a deixar-nos "contagiar" por ela. Convida-nos por muito desorientados que nos possamos sentir a voltar para casa e a permitir que a sua bondade purificadora nos reanime e nos faça entrar na comunhão da mesa com Ele, com o próprio Deus.
Acrescentamos uma última palavra deste inexaurível texto evangélico: "dei-vos exemplo..." (Jo 13, 15); "também vós vos deveis lavar os pés uns aos outros" (Jo 13, 14). Em que consiste "lavar os pés uns aos outros"? Que significa concretamente? Eis que, qualquer obra de bondade pelo outro especialmente por quem sofre e por quantos são pouco estimados é um serviço de lava-pés. Para isto nos chama o Senhor: descer, aprender a humildade e a coragem da bondade e também a disponibilidade de aceitar a recusa e contudo confiar na bondade e perseverar nela. Mas existe ainda uma dimensão mais profunda. O Senhor limpa-nos da nossa indignidade com a força purificadora da sua bondade. Lavar os pés uns aos outros significa sobretudo perdoar-nos incansavelmente uns aos outros, recomeçar sempre de novo juntos, mesmo que possa parecer inútil. Significa purificar-nos uns aos outros suportando-nos mutuamente e aceitando ser suportados pelos outros; purificar-nos uns aos outros doando-nos reciprocamente a força santificadora da Palavra de Deus e introduzindo-nos no Sacramento do amor divino.
O Senhor purifica-nos e, por isso, ousamos aceder à sua mesa. Peçamos-lhe que conceda a todos nós a graça de podermos ser, um dia e para sempre, hóspedes do eterno banquete nupcial.
Catequese do Papa sobre a viagem ao Reino Unido
Queridos irmãos e irmãs!
Hoje, desejo deter-me a falar sobre a viagem apostólica ao Reino Unido, que Deus me permitiu realizar nos dias passados. Foi uma visita oficial e, ao mesmo tempo, uma peregrinação no coração da história e do hoje de um povo rico de cultura e de fé, que é aquele britânico. Foi um evento histórico, que assinalou uma importante nova fase na longa e complexa história das relações entre aquelas populações e a Santa Sé. O objetivo principal foi o de proclamar beato o Cardeal John Henry Newman, um dos maiores ingleses dos tempos recentes, insigne teólogo e homem da Igreja. Com efeito, a cerimônia de beatificação representou o momento proeminente da viagem apostólica, cujo tema foi inspirado pelo lema cardinalício do beato Newman: "O coração fala ao coração". Nos quatro intensos e belíssimos dias transcorridos naquela nobre terra, tive a grande alegria de falar ao coração dos habitantes do Reino Unido, que também falaram ao meu, especialmente com a sua presença e com o testemunho da sua fé. Pude, de fato, constatar o quanto a herança cristã é ainda forte e ativa em todos os âmbitos da vida social. O coração dos britânicos e a sua existência estão abertos à realidade de Deus e há numerosas expressões de religiosidade que essa minha visita colocou ainda mais em evidência.
Desde o primeiro dia da minha permanência no Reino Unido, e durante todo o período da minha estadia, recebi em todos os lugares uma calorosa acolhida por parte das Autoridades, dos expoentes das várias realidades sociais, dos representantes das diversas Confissões religiosas e especialmente do povo em geral. Penso, de modo particular, nos fiéis da Comunidade católica e em seus Pastores, que, embora sendo minoria no país, são amplamente apreciados e considerados, compromissados no anúncio gozoso de Jesus Cristo, fazendo resplandecer o Senhor e sua voz especialmente entre os últimos. A todos, renovo a expressão da minha profunda gratidão, pelo entusiasmo demonstrado e pela elogiável diligência com que trabalharam para os sucessos desta minha visita, cuja recordação conservarei para sempre no meu coração.
O primeiro compromisso foi em Edimburgo, com Sua Majestade a Rainha Elizabeth II, que, juntamente com seu esposo, o Duque de Edimburgo, acolheram-me com grande cortesia em nome de todo o povo britânico. Tratou-se de um encontro muito cordial, caracterizado pela partilha de algumas profundas preocupações pelo bem-estar dos povos do mundo e pelo papel dos valores cristãos na sociedade. Na histórica capital da Escócia, pude admirar as belezas artísticas, testemunho de uma rica tradição e profundas raízes cristãs. A isso, fiz referência no discurso a Sua Majestade e às autoridades presentes, recordando que a mensagem cristã tornou-se parte integrante da língua, do pensamento e da cultura dos povos daquelas Ilhas. Falei também do papel que a Grã-Bretanha desenvolveu e desenvolve no panorama internacional, mencionando a importância dos passos dados para uma pacificação justa e duradoura na Irlanda do Norte.
A atmosfera de festa e alegria criada pelos jovens e crianças agraciou a fase de Edimburgo. Transferi-me depois para Glasgow, cidade enfeitada por encantáveis parques, presidi a primeira Santa Missa da viagem justamente no Bellahouston Park. Foi um momento de intensa espiritualidade, muito importantes para os católicos do País, também em consideração do fato de que naquele dia transcorria a festa litúrgica de São Ninian, primeiro evangelizador da Escócia. Àquela assembleia litúrgica reunida, em atenta e participante oração, tornada ainda mais solene pelas melodias tradicionais e cantos envolventes, recordou a importância da evangelização da cultura, especialmente na nossa época em que um penetrante relativismo ameaça obscurecer a imutável verdade sobre a natureza do homem.
No segundo dia, iniciei a visita a Londres. Lá, encontrei primeiramente o mundo da educação católica, que desenvolve um papel relevante no sistema de educação daquele País. Em um autêntico clima de família, falei aos educadores, recordando a importância da fé na formação de cidadãos maduros e responsáveis. Aos numerosos adolescentes e jovens que me acolheram com simpatia e entusiasmo, propus que não perseguissem objetivos limitados, contentando-se com escolhas cômodas, mas que apontassem a algo maior, ou seja, a busca da verdadeira felicidade, que se encontra apenas em Deus.
No evento sucessivo, com os líderes de outras religiões majoritariamente representadas no Reino Unido, relembrei a inevitável necessidade de um diálogo sincero, que necessita do respeito pelo princípio da reciprocidade para que seja plenamente frutuoso. Ao mesmo tempo, evidenciei a busca pelo sagrado como terreno comum a todas as religiões, sobre o qual reforçar amizade, confiança e colaboração.
A visita fraterna ao Arcebispo de Canterbury foi ocasião para confirmar o compromisso comum de testemunhar a mensagem cristã que liga Católicos e Anglicanos. Em seguida, um dos momentos mais significativos da viagem apostólica: o encontro no grande salão do Parlamento britânico com personalidades institucionais, políticas, diplomáticas, acadêmicas, religiosas, expoentes do mundo cultural e dos negócios. Naquele lugar tão prestigioso, sublinhei que a religião, para os legisladores, não deve representar um problema a se resolver, mas um fator que contribui de modo vital no caminho histórico e debate político da nação, em particular no chamar a atenção para a importância essencial do fundamento ético para as escolhas nos vários setores da vida social.
Naquele mesmo clima solene, fui, então, à Abadia de Westminster: pela primeira vez um Sucessor de Pedro entrou no lugar de culto símbolo das antiquíssimas raízes cristãs do País. A recitação da oração das Vésperas, juntamente com as diversas comunidades cristãs do Reino Unido, representou um momento importante nas relações entre a Comunidade católica e a Comunhão anglicana. Quando, unidos, veneramos a tumba de Santo Eduardo o confessor, enquanto o coro cantava: "Congregavit nos in unum Christi amor", todos louvamos a Deus, que nos conduz no caminho da plena unidade.
Na manhã de sábado, o encontro com o primeiro-ministro abriu a série de encontro com os maiores expoentes do mundo político britânico. Seguiu-se a celebração eucarística na Catedral de Westminster, dedicada ao Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor. Foi um extraordinário momento de fé e de oração – que também evidenciou a rica e preciosa tradição de música litúrgica "romana" e "inglesa"– da qual participaram os diversos componentes eclesiais, espiritualmente unidos às fileiras de crentes da longa história cristã daquela terra. Grande é a minha alegria por ter encontrado um grande número de jovens que participam da Santa Missa no exterior da Catedral. Com a sua presença, cheia de entusiasmo e, ao mesmo tempo, atenta e trépida, demonstraram o desejo de serem protagonistas de um novo tempo de corajoso testemunho, de ativa solidariedade, de generoso compromisso a serviço do Evangelho.
Na Nunciatura Apostólica, encontrei algumas vítimas de abusos por parte de integrantes do Clero e religiosos. Foi um momento de comoção e de oração. Pouco depois, encontrei também um grupo de profissionais e voluntários responsáveis pela proteção dos meninos e jovens nos ambientes eclesiais, um aspecto particularmente importante e presente no compromisso pastoral da Igreja. Agradeci-os e encorajei a continuar o seu trabalho, que se insere na longa tradição da Igreja de proteção do respeito, educação e formação das novas gerações. Sempre em Londres, depois, visitei a casa de repouso para idosos, gerenciada pelas Pequenas Irmãs dos Pobres com a preciosa contribuição de numerosas enfermeiras e voluntários. Essa estrutura de acolhimento é sinal da grande consideração que a Igreja sempre teve pelo idoso, bem como expressão do compromisso dos católicos britânicos no respeito da vida sem levar em conta a idade ou as condições.
Como dizia, o cume da minha visita ao Reino Unido foi a beatificação do Cardeal John Henry Newman, ilustre filho da Inglaterra. Ela foi precedida e preparada por uma vigília especial de oração, que aconteceu no sábado à noite, em Londres, no Hyde Park, em uma atmosfera de profundo recolhimento. À multidão de fiéis, especialmente jovens, desejei repropor a luminosa figura do Cardeal Newman, intelectual e fiel, cuja mensagem espiritual pode-se sintetizar no testemunho de que a via da consciência não é fechamento no próprio "eu", mas abertura, conversão e obediência Àquele que é caminho, Verdade e Vida. O rito de beatificação aconteceu em Birmingham, durante a solene celebração eucarística dominical, na presença de uma grande multidão proveniente de toda a Grã-Bretanha e Irlanda, com representantes de muitos outros países. Esse tocante evento colocou ainda mais em destaque um estudioso de grande envergadura, um insigne escritor e poeta, um sábio homem de Deus, cujo pensamento iluminou muitas consciências e ainda hoje exerce um fascínio extraordinário. A ele, em particular, inspiram-se os crentes e as comunidades eclesiais do Reino Unido, para que também em nossos dias aquela nobre terra continue a produzir frutos abundantes de vida evangélica.
O encontro com a Conferência Episcopal da Inglaterra e Gales e com aquela da Escócia concluiu um dia de grande festa e intensa comunhão de corações para a comunidade católica na Grã-Bretanha.
Queridos irmãos e irmãs, nesta minha viagem ao Reino Unido, como sempre, desejou apoiar em primeiro lugar a Comunidade católica, encorajando-a a trabalhar tenazmente para defender as imutáveis verdades morais que estão na base de uma sociedade verdadeiramente humana, justa e livre. Pretendi também falar ao coração de todos os habitantes do Reino Unido, sem excluir ninguém, sobre a verdadeira realidade do homem, das suas necessidades mais profundas, do seu destino último. Ao dirigir-me aos cidadãos do país, encruzilhada da cultura e da economia mundial, tive em mente todo o Ocidente, dialogando com as razões dessa civilização e comunicando a perene novidade do Evangelho, do qual ela está impregnada. Essa viagem apostólica confirmou em mim uma profunda convicção: as antigas nações da Europa têm uma alma cristã, que constituem um todo com o 'gênio' e a história dos respectivos povos, e a Igreja não cessa de trabalhar para manter continuamente essa tradição espiritual e cultural.
O beato John Henry Newman, cuja figura e escritos conservam ainda uma formidável atualidade, merece ser conhecido por todos. Ele sustente os propósitos e esforços dos cristãos par "difundir em todos os lugares o perfume de Cristo, a fim de que toda a sua vida seja apenas uma irradiação da sua", como escrevia sapientemente no seu livro Irradiar Cristo.
Jovem, bonita... feliz ( Dom Antônio Augusto, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro)
Uma moça jovem e bonita tem nessa sua juventude e nessa sua beleza duas ocasiões propícias para ser uma mulher emancipada e livre. Chiara Luce Badano escolheu, entretanto, ser uma mulher santa, e essa sua decisão infantil, tomada aos 10 anos de idade, fruto do seu contato com o Movimento dos Focolares, terá o reconhecimento oficial pela Igreja no próximo 25 de setembro, no Santuário de Nossa Senhora do Divino Amor, em Roma.
Nesse dia romano, Chiara Luce será beatificada pelo Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação da Causa dos Santos, e, a partir dessa data, a sua história de vida ganhará a categoria de testemunho de fé, de esperança e de caridade cristã.
Quem é Chiara Luce? Por que a Igreja reconheceu suas virtudes heróicas? O que ela viveu para ser um modelo de heroísmo cristão? Qual foi a sua “matriz” espiritual e humana, que a levou à beatificação?
Todas essas questões têm respostas. A biografia de Chiara é conhecida, pois as datas de nascimento e morte revelam a brevidade de sua vida: no dia 29 de outubro de 1971, após 11 anos de espera de seus pais, ela nascia em Sassello, província de Savona, na Itália, e no dia 07 de outubro de 1990, às vésperas do seu 19º aniversário, morria, após dois anos de um doloroso câncer ósseo.
Entre essas duas datas, Chiara Luce Badano viveu dentro de uma família muito unida, da qual recebeu uma sólida educação cristã. Rica de talentos naturais, bonita e esportiva, teve muitos amigos que testemunharam acerca da sua normalidade de vida com um único destaque, aquele que é sinal inconfundível de santidade: o sim à vontade de Deus.
Desde pequena, Chiara Badano só teve uma palavra em sua boca, esse sim sem condições, até que soube da sua doença incurável e a seqüência de consultas, exames, internações em hospitais, cirurgias e a impossibilidade de caminhar transformaram essa palavra afirmativa no estilo de vida característico das pessoas santas.
Um exemplo que não deixa sombra de dúvidas e vale a pena mencioná-lo, citando uma carta de Chiara Luce à fundadora do Movimento dos Focolarinos, Chiara Lubich: “A medicina depôs as armas. Interrompendo os tratamentos, as dores nas costas aumentaram e quase não consigo mais me mexer. Sinto-me tão pequena e o caminho a percorrer é tão árduo... muitas vezes sinto-me sufocada pela dor. Mas é o Esposo que vem me encontrar, não é? Sim, eu também repito com você: “Se tu queres, eu também quero”... Tenho certeza que com Ele venceremos o mundo!”
Logicamente, tal comportamento não foi imediato nem espontâneo, numa jovem tão cheia de vida como a jovem Chiara, mas teve a sua raiz na sua precoce compreensão do essencial no cristianismo. A amizade com Jesus Cristo foi para ela uma descoberta infantil. Aos 12 anos participou de um Congresso do Movimento dos Focolares e aí entendeu que estava errando como batizada, pois viu que instrumentalizava Jesus e não O amava. Suas palavras são profundas: “Descobri que Jesus Abandonado é a chave da unidade com Deus e quero escolhê-LO como primeiro esposo e preparar-me para quando vier – Preferi-LO! (cf. Carta a Chiara Lubich, novembro de 1983).
Nas suas cartas às amigas, notava-se essa sua descoberta incrível e raramente deixava de falar que abraçou Jesus Abandonado nas horas difíceis; com alegria mencionava-O como a sua companhia nas horas de tristezas, próprias das adolescentes, e seu maior desejo era assemelhar-se a Jesus Abandonado.
À juventude desse início do século XXI e também aos adultos, especialmente às mulheres emancipadas e livres, Chiara Luce Badano convida, com seu sorriso e olhar juvenil, para irem ao encontro de Jesus Cristo, muito abandonado, nesse mundo acompanhado de bebidas, drogas, sexo e poder. Para que vejam que Ele, Deus-Homem e Homem-Deus, é o melhor Amigo, a melhor Companhia, a maior Alegria, o Único realmente Vitorioso na vida.
Que a beatificação dessa moça jovem, bonita... feliz, acenda na juventude brasileira a luz da santidade e que sejam as moças e os rapazes de hoje os padroeiros das Igrejas e das Dioceses do futuro.
Fonte: Site da Arquidiocese do Rio de Janeiro
As Encíclicas e o Espírito Santo (Cardeal Sales)
Ao retomarmos nossas reflexões sobre os documentos da Igreja, recordo hoje uma breve Carta Encíclica, cujo tema era o Espírito Santo, publicada a 18 de maio de 1986, pelo Papa João Paulo II. Em 1980, havia publicado uma outra, “Dives in Misericordia” (“Rico em Misericórdia”); no ano anterior, a “Redemptor Hominis” (“Redentor do Homem”), sobre Jesus Cristo. Conforme ele mesmo disse, as três formam uma trilogia dedicada à Santíssima Trindade. Abordaremos cada uma delas.
Os ensinamentos pontifícios são ministrados aos fiéis de modo variado e em diferentes níveis, quanto à importância do conteúdo. Um deles leva o nome de encíclica e goza de particular relevância. A primeira data de 1740, a “Ubi Primum”, de Bento XIV. Umas são doutrinárias; outras, mais exortativas. A 280ª pode ser incluída nessas duas categorias e o resumo dela traduz-se bem pelo título: Carta Encíclica “Dominum et Vivificantem”, sobre o “Espírito Santo”, que dá vida à Igreja e ao mundo.
Perpassa-lhe as páginas a extraordinária influência do Paráclito na vida da Igreja, nesses mais de dois mil anos de atividade redentora em favor da Humanidade. De par com os aspectos positivos, leva-nos a examinar nossas infidelidades nesse largo período de tempo, desde Sua vinda no Cenáculo até nossa época.
Convida-nos a “meditar no mistério de Deus uno e trino que, em si mesmo, é absolutamente transcendente em relação ao mundo, de modo especial em relação ao mundo visível; é, na realidade, Espírito absoluto: ‘Deus é Espírito’ (Jo 4,24). Mas, simultaneamente e de modo admirável, não só está próximo deste mundo, mas está aí presente e, em certo sentido, imanente, compenetra-o e vivifica-o por dentro. Isto é válido, em especial, quanto ao homem: Deus está no íntimo do seu ser (...). Só o Espírito pode ser a tal ponto imanente ao homem e ao mundo, permanecendo inviolável e imutável a sua transcendência absoluta” (“Dominum et Vivificantem”, nº 54).
Na introdução, o documento lembra as palavras do Papa Paulo VI, em junho de 1973, sobre o incremento do culto ao Espírito Santo “como complemento indispensável do ensino conciliar” (idem, nº2). “A Igreja responde também a certos apelos profundos, que julga ler nos corações dos homens de hoje: uma nova descoberta de Deus na sua transcendente realidade de Espírito infinito” (idem). Assim, podemos entender a importância desta Encíclica. Ela sublinha o valor religioso do esforço humano. Os que não têm Fé avaliam o procedimento dos cristãos pela sua participação no desenvolvimento material, no combate à fome, às injustiças sociais, em prol dos direitos da pessoa. Contudo, alcance muito maior se constata em tudo que é realizado em favor do aspecto espiritual. Aliás, tal atitude não menospreza a solução dos problemas imediatos que nos afligem. O Papa João Paulo II, com a “Dominum et Vivificantem”, atinge também a causa desses males. Contribui, assim, de maneira mais eficaz na correção dos flagelos da Humanidade do que se abordasse apenas os efeitos do pecado.
A primeira parte da Encíclica se intitula: “O Espírito do Pai e do Filho dado à Igreja”. Por isso, a Igreja pode conservar sempre intacta a verdade que os Apóstolos aprenderam de seu Mestre (nº 4). Somente assim “introduz-se o homem oportunamente na realidade do mistério revelado” (nº 6).
Neste capítulo, acompanhamos o desabrochar da Revelação divina sobre a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, da Criação aos ensinamentos de Jesus e à manifestação do Paráclito, após a Ascensão. Com a vinda deste, tem início a história da Igreja. E Ele é a garantia de sua perenidade (nº 26).
A segunda parte traz por título: “O Espírito que convence o mundo quanto ao pecado”.
Chamado à existência, o ser humano é mera criatura e, como tal, depende do Criador. Transgredir os limites estabelecidos por Ele constitui desobediência ao Senhor e uma agressão ao indivíduo, isto numa perspectiva transcendental. Tudo ocorreu em nossas origens e se repete na vida de cada um. “Deus permanece a primeira e soberana fonte para decidir sobre o bem e o mal (...) e o Espírito é para o homem a luz da consciência e a fonte da ordem moral” (nº 36). “E o faz reconhecer o mal cometido, orientando-o (...) ao mesmo tempo para o bem que se completa pela conversão” (nº 42). E acrescenta a Encíclica: “A consciência, portanto, não é uma fonte autônoma e exclusiva para decidir o que é bom e o que é mau; pelo contrário, nela está inscrito profundamente um princípio de obediência relacionado com a norma objetiva” (nº 43). O Espírito da verdade, ao permitir a dor do remorso, torna-a salvífica, quando, por um ato de contrição perfeita, opera a conversão perfeita.
O terceiro capítulo aborda o tema: “O Espírito que dá a vida”. Nesse sentido, a contribuição divino-humana da Igreja, vivificada pelo Espírito, assim como sua missão, também se fundamenta n’Ele. E, mediante a Eucaristia, a unidade tão desejada recebe o indispensável alimento.
Vejo este documento como fator muito eficaz na luta que travam os cristãos. Inseridos em um mundo atribulado, no qual impera nítida inversão de valores, as considerações sobre o Espírito Santo desfrutam de particular importância. Levam-nos ao aperfeiçoamento de nossa prática religiosa e fortalecem os fiéis nos embates frente a uma mentalidade pagã reinante na sociedade.
Peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine a professar a doutrina do Senhor, mesmo à custa de sacrifícios e incompreensões.
Romaria dos Bispos ( Dom Orani João Tempesta)
A visita “ad limina Apostolorum”, que significa no limiar, na soleira, na entrada, nos limites (das basílicas) dos apóstolos (Pedro e Paulo), é uma visita dos bispos diocesanos aos túmulos dos Apóstolos, na Diocese de Roma, a primeira de todas as Dioceses do mundo e onde está a Sé de Pedro, com quem se encontram na pessoa do Santo Padre.
Visita esta carregada de importância e feita com periodicidade quinquenal, ou seja, obrigatória a cada cinco anos. Evidentemente que isso depende muito da época e dos compromissos do Papa e do número de Bispos Católicos. Ela é prevista no Código de Direito Canônico nos seus cânones 399-400 (“o Bispo deve ir a Roma para venerar os sepulcros dos Apóstolos Pedro e Paulo e apresentar-se ao Romano Pontífice”).
Essa tradição salutar é uma graça de Deus que nos dá oportunidade de estar junto à Sé de Pedro como um voltar às fontes e às inspirações originais em tudo aquilo que significa esses locais. Também as congregações, institutos, comunidades e grupos diversos hoje fazem o mesmo, enviando as pessoas que estão ligadas a certo trabalho ou carisma a irem atualizar-se nos locais onde a vida e o carisma iniciaram. Isso faz parte de toda instituição que busca retornar sempre ao carisma inicial. Recordemos o esforço do Concílio Ecumênico Vaticano II sobre o tema da “volta às fontes”. A presença nos locais históricos ajuda-nos a estar ainda mais unidos ao espírito inicial.
Por isso, no seu cerne, é uma demonstração de afeto e de obediência ao sucessor de Pedro, num reconhecimento visível de sua universal jurisdição sobre todo o orbe católico, dentro de uma peregrinação dos bispos a Roma e com um encontro pessoal com o Santo Padre.
Por sua vez, o Santo Padre demonstra afeto e solicitude para com todas as dioceses do mundo, dando-lhes conselhos e orientações e, claro, diretrizes. Nos pronunciamentos do Papa, encontramos algo próprio para cada regional que faz a visita e também uma orientação para toda a Igreja que está no Brasil, de forma que, colecionando e publicando os textos dos discursos do Santo Padre, temos um tratado de reflexões sobre a caminhada da Igreja em nosso País.
Desde remotos idos, era costume que os bispos fizessem esta visita periódica ao Papa, em Roma. As primeiras manifestações dessas visitas, nós as encontramos na prática entre os bispos italianos, cuja jurisdição se mostrava mais próximas da Sé Apostólica. Sob o Primado do Papa Zacarias (743), encontramos decretos pedindo aos bispos da Sicília que fizessem uma visita a Roma uma vez pelo menos a cada três anos, o que depois foi alongado para cinco anos. O caráter obrigatório das visitas foi expresso sob o Pontificado de Pascoal II e principalmente em decretos de Inocêncio III.
O ritmo atual das visitas está nas decretais do Papa São Pio X. Em dezembro de 1909 o Sumo Pontífice já pedia que os Bispos enviassem junto com a visita um relatório completo sobre o estado de suas dioceses. Essa obrigatoriedade é contemplada hoje no Código de Direito Canônico: “o Bispo Diocesano tem obrigação de apresentar ao Sumo Pontífice, a cada cinco anos, um relatório sobre a situação da diocese que lhe está confiada” (can 399).
Nesse relatório, os bispos prestam contas de suas administrações ao Papa e à Santa Sé. Podemos resumir este relatório da seguinte forma: nome, idade e pátria, sua ordem religiosa, se a ela o bispo pertenceu quando foi sagrado bispo. Depois uma declaração geral do estado da sua diocese e o crescimento ou decréscimo do número de fiéis, e a sua relação com o último quinquênio apresentado. Informa-se também a origem da diocese, seu grau hierárquico: diocese ou arquidiocese, e, nesta última, o número de sedes sufragâneas. A extensão territorial da diocese, a sua língua e endereços de correspondências para eventuais consultas posteriores e complementares. Se há católicos de outros ritos presentes em seu território, o número possível de não católicos e a presença de outras igrejas ou denominações religiosas de expressão. Informa-se também, é claro, o número de sacerdotes e de ordenações acontecidas e a questão vocacional e a presença de seminaristas em sua casa de formação. Menciona-se o número de paróquias e outros lugares de culto e também a presença e o número de casas religiosas e colégios católicos. Enfim, é um relatório minucioso sobre a situação geral e o estado específico da diocese. Esse relatório deve ser entregue em até seis meses antes da visita e não menos de três meses do início desta.
A periodicidade começou em 1911. Existia, no passado, certa organização, quando, nos primeiros cinco anos, caberia aos bispos da Itália e aos bispos das ilhas da Córsega, Sardenha e Sicilia e Malta; no segundo período, aos bispos da Espanha, Portugal, França, Bélgica, Países Baixos, Inglaterra, Escócia e Irlanda; no terceiro período caberia aos Bispos do Império austro-húngaro e Alemão, e o resto da Europa, no quarto período aos bispos da América e quinto período aos bispos Africanos, Ásia, Austrália e ilhas adjacentes. Evidentemente que hoje depende muito das circunstâncias e das novas realidades. Hoje os documentos que regulam a visita são o Decreto “Ad Romanan Ecclesiam” de 29 de junho de 1975 e os artigos 28 a 32 da Constituição “Pastor Bonus” de João Paulo II, de 28 de Junho de 1988.
Durante o ano santo de 2000, o Papa João Paulo II suspendeu as visitas ad limina devido às comemorações do Ano Santo. Com a sua doença e retorno ao Pai e a eleição do Papa Bento XVI, as datas foram postergadas. Podemos notar também que o número de bispos cresceu significativamente nos últimos anos. De acordo com o anuário pontifício, no final de 1983 tínhamos 2.285 bispos diocesanos no mundo e outros 651 bispos auxiliares. Até o final de 2006 havia 2.705 bispos e cerca de 610 bispos auxiliares. Em essência, isso significa que o Papa teria que atender, em média, 457 bispos diocesanos a cada ano, a fim de vê-los todos, novamente, em cinco anos. Hoje essa média subiu para 541.
Embora a obrigação da visita seja dos bispos titulares, estes, em geral, se fazem acompanhar pelos auxiliares. Assim como o Papa assume uma visita de cerca de 10-20 minutos por grupo, se multiplicarmos isso em horas chegaremos a números significativos para a agenda papal.
Essa visita é, evidentemente, uma visita de trabalho, de reuniões e de contatos que os bispos fazem junto à Santa Sé e a seus diversos organismos e dicastérios e comissões pontifícias. O nosso Regional Leste 1, além das celebrações nas Basílicas Romanas e da audiência e encontro com o Santo Padre, já agendou em média três visitas aos vários departamentos da Cúria Romana, durante os dias da visita “ad limina”, que irá acontecer de 23 a 30 deste mês de setembro.
Peçamos ao Senhor que esta visita seja uma fonte de graças para a nossa Arquidiocese, e que lá, junto ao túmulo de Pedro e junto ao seu sucessor, o Santo Padre Bento XVI, possamos buscar forças para a nossa caminhada, e que as suas diretivas nos ajudem, como sinalizou em sua recente visita pastoral ao Reino Unido, já “que a proclamação cristã e o testemunho são cada vez mais importantes em um mundo marcado não somente pelo individualismo, mas também "indiferente ou inclusive hostil à mensagem cristã". Por isso, estar com o Papa Bento XVI é ter a certeza de “que a fidelidade exige obediência para poder alcançar uma compreensão mais profunda da vontade do Senhor".
Irei levando todos os queridos arquidiocesanos no coração e nas orações em todas as atividades que teremos durante esta semana, anseios, alegrias, dificuldades, buscas, sonhos. Assim, junto com os bispos do Regional Leste 1, que compreende o Estado do Rio de Janeiro e alguns irmãos bispos que se associaram a nós, fazemos essa romaria para renovar a bonita e corajosa obediência que deve estar "livre de conformismo intelectual ou acomodação fácil às modas do momento". Por isso, unidos ao Papa Bento XVI, temos a convicção de que as suas palavras são sempre palavras que nos guiam neste momento histórico: "de fidelidade ao seu ministério de Bispo de Roma e Sucessor de São Pedro, encarregado de cuidar especialmente da unidade do rebanho de Cristo."
É isso que esperamos desta visita e esta é a nossa meta de Arcebispo do Rio de Janeiro: superar as diferenças e disputas para vivermos a unidade "UT OMNES UNUM SINT".
Assinar:
Postagens (Atom)