Ao criar este blog, gostaria de propor reflexões, mensagens e apontamentos sobre aspectos relevantes a fé e tudo aquilo que ensina a Santa Igreja, através de seu magistério, da Liturgia e dos demais meios que nos são propostos pela mesma Igreja. Espero que todos gostem deste novo blog. Grande abraço a todos, sejam bem vindos!
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Zaqueu, desce depressa!
“Zaqueu, desce depressa, pois hoje preciso ficar em tua casa. Ele desceu depressa e recebeu-o com alegria” (Lc 19, 5-6)
A passagem que lemos acima é admirável e cheia de ricos significados que queremos, neste dia, refletir com alegria.
Jesus estava passando por Jericó, tomando o caminho para a sua viagem definitiva a Jerusalém. Sabendo que Jesus estava por aquelas redondezas, certo homem, chamado Zaqueu, cobrador de impostos, homem rico e de vida aparentemente feliz, procura uma forma, um jeito de ver quem era esse tal Jesus, famoso entre todos que puderam constatar os seus milagres e prodígios pelas cidades onde este homem passava. Mas algo lhe impedia. Zaqueu era pequenino e no meio da multidão, não conseguia espaço para ver Jesus, sua deficiência o impedia de encontrar-se com aquele homem que poderia mudar sua vida. Também nós meus irmãos, todos nós, experimentamos a mesma realidade de Zaqueu. Diante de Deus somos pequenos, sua grandeza nos ultrapassa por inteiro e, diante de tal deficiência, o homem de todos os tempos, se depara com aquilo que existe de mais impressionante na terra: a sua insuficiência, a sua debilidade diante de um Deus que como diz o salmo 113 “«Quem se compara ao Senhor, nosso Deus, que tem o seu trono nas alturas e Se inclina lá do alto a olhar os céus e a terra?”. Diante dEle nosso orgulho se frustra e, se somos verdadeiros conosco mesmos, chegaremos a incrível descoberta: eu não me basto a mim mesmo, preciso de alguém que me indique o caminho a seguir; de alguém que seja maior que o meu egoísmo e a minha falsa independência; preciso de alguém que na sua Grandeza me “engole” por inteiro e me conduz ao reconhecimento de que, não sou eu, a medida de todas as coisas, mas sou sim, alguém que no meio da multidão pode fazer a diferença e ter a surpreendente atitude do deixar-se apaixonar por um Verdade que dá sentido a vida. Preciso ser “criança” novamente. Preciso voltar às origens e colocar minha confiança nas mãos do Único que pode transforma-me por inteiro.
Zaqueu na ânsia por encontrar o sentido para sua existência voltou às origens e se permitiu ser criança novamente, subiu na árvore para ver o objeto de seu procura. Quando criança, ele deveria por muitas e muitas vezes ter experimentado a atitude de “subir na árvore” devido a sua condição de pequenino que era; talvez os meninos mais altos que ele, na implicância que é próprio de criança, tentaram diversas vezes impor a lei do mais forte sobre o fato dele ser mais frágil, mais novo, mais indefeso... e Zaqueu como toda criança carente de proteção, procurou abrigo para se sentir seguro, longe da bruteza dos meninos de seu tempo, naquele sicomôro que se tornava cada vez mais o local de seu refúgio mais que certo. Novamente ali se encontra ele diante do sicomôro que tantas vezes serviu-lhe de abrigo, agora não mais como criança de idade, mas sim, como criança nos sentimentos mais puros e impulsivos. Zaqueu sobe naquela árvore decidido em ver Jesus. Espera ansioso pelo encontro. Aguarda, se angustia, o coração se comprime no peito e eis que é chegada à hora; ele vê Jesus que se aproxima e num momento oportuno, o Senhor volta seu olhar para aquele publicano, que durante a vida roubou, enganou, e que realizou diversos crimes, mas que ao encontrar aquele homem sentiu-se incomodado por sua Presença excepcional e naquele instante o publicano fez experiência verdadeira de Deus em sua vida. Jesus olha, e o olhar amoroso do Senhor transpassa a alma de Zaqueu. Quem na vida tinha olhado para Zaqueu daquela maneira? Quem se importaria com um miserável de um cobrador de impostos? Quem se daria ao luxo de dar atenção a um homem que se vendeu para os romanos? Quem? Onde? Como? Jesus, em Jericó, impelido por sua infinita caridade proclama a palavra de libertação para Zaqueu: “Zaqueu, desde depressa, pois hoje preciso ficar em tua casa.” (Lc 19, 5) Analisemos essas duas palavras do Senhor: ‘depressa’, e ‘preciso’.
“Desce depressa Zaqueu, pois hoje preciso ficar em tua casa”. “Na linguagem do Evangelho, “depressa” significa ‘ realizar algo com solicitude’. Encontramos esta expressão no inicio do Evangelho de São Lucas, especificamente na Encarnação do Verbo, quando o anjo anuncia a Maria que sua prima Isabel estava grávida e que já era o sexto mês de gravidez. O evangelista nos diz:” Naqueles dias, Maria pôs-se à caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá.” (Lc 1, 39) Encontraremos novamente a mesma expressão no Evangelho de São João, quando Maria Madalena, a grande testemunha do Ressuscitado, foi dar a noticia da Ressurreição do Senhor aos Apóstolos. São João nos relata desta maneira: “ No primeiro dia da semana, Maria Madalena vai ao sepulcro, de madrugada, quando ainda estava escuro e, vê que a pedra fora retirada do sepulcro. Corre, e então vai até Simão Pedro e ao outro discípulo que Jesus amava, e lhe diz: ‘ Retiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde colocaram’.
Pedro saiu, então, com o outro discípulo e se dirigiram ao sepulcro. “Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.” (Jo 20,-1,2,3,4)
Tanto no primeiro, como no segundo caso, encontramos a mesma realidade. Em Maria vemos a solicitude para com sua idosa prima Isabel. Em São João encontramos a solicitude para com o Senhor. Ao se dirigirem apressadamente, os dois (Maria Santíssima e João) demonstraram aquilo que impulsiona o desejo de ser solicito: o amor. Quem ama se apressa. Quem ama corre ao encontro do amado e, sem reservas, não encontra barreiras que possam afastar a pessoa amada. A medida do amor é amar sem limites, como nos diria um pouco mais tarde Madre Tereza de Calcutá. Quem ama de verdade vai além e se apressa para usufruir da companhia do ser amado. Zaqueu desce depressa, em outras palavras, “Zaqueu desce com solicitude, desce com amor. Permita-me que o meu amor seja o impulso para o teu amar. Deixa-me encontrar-te na confusão do teu dia agitado. Deixa que a minha paz preencha a tua vida de sentido.”
“Zaqueu preciso, hoje, estar em tua casa”
Deus que não precisa do homem para nada, se rebaixa até a infimidade do homem e se faz precisar dele. Deus que é três vezes santo se inclina até o homem pecador e conta com o homem para ser o grande cooperador de sua missão salvifica. “Deus habita nas alturas, mas inclina-Se para baixo… Deus é imensamente grande e está incomparavelmente acima de nós. Esta é a primeira experiência do homem. A distância parece infinita. O Criador do universo, Aquele que tudo guia, está muito longe de nós: assim parece ao início. Mas depois vem a experiência surpreendente: Aquele que não é comparável a ninguém, que «está sentado nas alturas», Ele olha para baixo. Inclina-se para baixo. Ele vê-nos a nós, e vê-me a mim. Este olhar de Deus para baixo é mais do que um olhar lá das alturas. O olhar de Deus é um agir. O fato de Ele me ver, me olhar, transforma-me a mim e o mundo ao meu redor.” (Papa Bento XVI) Sim, o Santo Padre tem razão quando diz que o agir de Deus muda a nossa vida. Deus se faz precisar de nós a cada dia, como fez com Zaqueu. E hoje nos diz: “Rafael, Adriano, Vitor, Thiago, Leonardo, Samuel, Andréia, Cris, Ana... preciso estar em tua casa!” Qual será a nossa resposta? Deixemos que Zaqueu nos ensine: “Ele desceu depressa e recebeu-o com alegria” (Lc, 19, 6) Zaqueu nos ensina que é preciso descer com amor, e o fruto do amor é a alegria. Dar com alegria é que alegra a Deus, vai dizer São Paulo e dando com alegria o nosso amor, o nosso tempo, a nossa disponibilidade, experimentaremos a grande transformação que isso causará em nossa vida. Como Zaqueu ficaremos felizes por receber o Senhor em nossa casa. Como Zaqueu nos converteremos por inteiro, e como Zaqueu aprenderemos a sermos humildes, a tal ponto de ter que se expropriar para dar lugar ao grande fruto do encontro do Senhor em nossas vidas, que é a paz que dá sentido a vida e nos impulsiona a sermos felizes de verdade.
Sem. Rafael Viana Lima
II ano de Filosofia do Seminário Arquidiocesano de São José - RJ
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário