quinta-feira, 24 de junho de 2010

Solenidade da Natividade de Sõa João Batista



João, o precursor do Senhor Jesus

“Foi-me dirigida a palavra do Senhor, dizendo: ‘ Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações” (Jr, 1- 4- 10 - 17 – 19)
A leitura do livro do profeta Jeremias, dá o tom da grande solenidade que a Santa Igreja hoje celebra. Dedicamos neste dia louvores, hinos, aclamações de alegria, aquele que foi o precursor do Senhor, o maior homem nascido de mulher, como diria mais tarde o próprio Jesus. A Igreja venera, respeita e quer aprender de João Batista o modo correto que devemos seguir Nosso Senhor.
A palavra de Deus na leitura do profeta Jeremias, nos fala sobre o grande dom do ser profeta do Senhor. Falando a Jeremias, Deus que tudo conhece e que perscruta os corações, revela aquilo que, de certo modo, era desconhecido pelo jovem Jeremias. Diz o Senhor: ‘ Antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações. ’ Deus já no ventre materno escolhera o profeta para ser o seu mensageiro entre os homens. O povo precisaria de uma voz em quem confiasse e, sendo o enviado do próprio Deus, o profeta tinha como característica primeira a realidade da eleição. O Senhor num ato de total liberdade escolhe quem Ele quer, na hora que quer, do jeito que quer. Deus não escolhe segundo as aparências humanas, como falará ao profeta Samuel, a respeito de Davi, mas o Senhor ‘olha o coração. ’ (I Sm 16- 7) O Senhor olha o coração puro do futuro rei de Israel; o Senhor olha o coração jovem e cheio de vida do futuro profeta Jeremias; o Senhor olha para o nosso pobre coração. Por quê? Talvez porque necessitemos dEle, porque sem Ele nada somos e nada podemos fazer.
Ao ouvir a palavra de Deus, o profeta sofre a tentação de dizer “não”. E as desculpas nessas horas não faltam. ‘Não sei falar... sou muito novo...’ Também em nossas vidas somos tentados a seguir o exemplo do profeta. Diante daquilo que Deus nos pede, somos impelidos pelas tendências da falta de responsabilidade, do não se importar com aquilo que o Senhor deseja para nossas vidas. É cômodo inventar desculpas, dizer que sou muito tímido, de que não tenho jeito para trabalhar na catequese, de que não sou formado em Teologia para poder coordenar um grupo de Circulo Bíblico, de que sou inexperiente para ajudar no grupo de Crisma da minha paróquia... Desculpas, desculpas e mais desculpas. E quando assim procedemos, perdemos a oportunidade de ouvir do Senhor, as palavras que modificam tudo ao nosso redor: “Não digas que és muito novo; a todos a quem eu te enviar irás, e tudo que eu te mandar dizer, dirás. Não tenhas medo deles, pois estou contigo para defender-te diz o Senhor” Diante de tal promessa, todas as desculpas se vão pelos ares, pois o Senhor que chama e envia para a missão, também é o mesmo que capacita e fortalece aqueles a quem ele mesmo chamou para o cumprimento da missão.
Aquilo que atribuímos ao profeta Jeremias, com toda propriedade atribuímos também a João Batista. Desde o ventre materno, o Senhor já o tinha escolhido para ser o precursor do Messias, de modo que dos profetas João seria o ultimo e ao mesmo tempo o primeiro. O primeiro e ultimo, pois como nos diz Santo Agostinho: “João apareceu como ponto de encontro entre os dois testamentos. Ele representa o antigo e anuncia o novo.” Por que representa o antigo? ‘ pois nasce de pais idosos’ e por que anuncia o novo? ‘ porque é declarado profeta ainda estando nas entranhas da mãe. ’ João prepara o caminho do Senhor com a voz que clama no deserto, implorando ao povo que se converta e acolha o Messias esperado. Em nossos dias também, o clamor de João chega aos nossos ouvidos, nós homens e mulheres do tempo presente. João grita pela conversão de nossos corações que tantas vezes procuraram compensações naquilo que a sociedade moderna oferece; o luxo, o prazer desmedido, o consumismo excessivo, as ideologias que nos levam as ruínas e nos deixam nos abismos da ignorância; as facilidades em ter, poder, querer, desvirtuando assim as nossas mentes daquilo que é essencial para o acidental. Numa sociedade que presa o culto pelo corpo, pela vaidade desmedida, pelo sexo libertino, desaparecem os valores que outrora eram sagrados como, por exemplo, o valor sagrado da vida humana. Hoje na mentalidade libertina, o valor da pessoa ficou para segundo plano, o que importa mesmo é obter o prazer sem compromisso com nada; a “onda” é se divertir, curtir a vida sem repressão, de modo que todos consigam ser feliz na sua própria maneira. Uma sociedade que despreza a vida é uma sociedade fadada à morte. Uma sociedade que presa pela libertinagem, é uma sociedade vazia de sentido que busca no ato sexual compensações que supram a carência afetiva que, infelizmente, assola o homem de nosso tempo. Por fim, uma sociedade sem Deus é uma sociedade que perdeu completamente o rumo da direção e se esqueceu de suas origens, e em suas origens encontramos Aquele que tudo criou e formou. João Batista ainda hoje, nos interpela com suas palavras exortativas, sobre a necessidade de prepararmos o nosso coração para recebermos o Senhor. Se em nossas vidas o mundo tem vez, dificilmente encontraremos espaço para que Deus em nós; ou pertencemos a Ele, ou pertencemos ao mundo.
Como modelo de vocação, João nos ajuda a compreender um pouco o sentido de toda vocação cristã. A Igreja nos ensina que pelo batismo recebemos o espírito de sacerdotes, profetas e reis. Como sacerdotes somos convidados a apresentar ao Pai, pelo Filho na força do Espírito Santo, os nossos sacrifícios espirituais. Diante do altar, sobretudo, na Divina Liturgia somos chamados a entregar a Deus tudo àquilo que temos como oferta de suave odor para que, associados ao sacrifício da Cruz, possamos também nós, colher os frutos de nossa ação sacerdotal na Igreja. O espírito profético nos coloca diante da eterna missão de todo cristão: anunciar e denunciar. O evangelho precisa ser anunciado, levado a todos os cantos da terra por todos aqueles que fizeram uma experiência com a Palavra eterna de Deus, que gera vida e renova tudo o que era velho, que passa por nós e sempre nos deixa um sinal de amor infinito e nos vocaciona a sermos fiéis dispensadores desta mesma Palavra. O profeta anuncia o Senhor e denuncia tudo que se opõe ao Senhor. Grita forte contra as injustiças, defende o pobre, ampara a viúva e o órfão, estende a mão a quem precisa, acolhe o marginalizado vendo nele a pessoa do próprio Cristo, recebe de Deus a força necessária para que sua voz seja ouvida em todo o mundo.
Ao celebrarmos João Batista, somos convidados a nunca temermos diante dos desafios da vida, mesmo diante dos “Herodes” que tentam cortar nossas cabeças. Caminhamos na certeza da promessa feita por Deus de que sempre estaria ao nosso lado, sendo o nosso protetor, o nosso guia, o nosso pastor.
“Toma-me, Senhor, por inteiro e faz aquilo que queres em minha vida, mesmo que aquilo que tu queres, seja o contrário de minha vontade. Espero em ti e sei que não me decepcionarás, pois tu nunca falhas, és sempre o mesmo ontem, hoje e sempre! Por isso em tuas mãos entrego minha vida, minha família, meus amigos e tudo o que tenho. Realizas, Senhor, em minha vida a tua obra de salvação e ajuda-me a ser um homem consagrado totalmente a ti.”

Que a Santa Liturgia de hoje, nos ajude nesta caminhada cristã para que possamos ter o mesmo espírito que inspirou João a ser o profeta do ‘prepar-se’ os caminhos para o encontro com o Senhor. Que ele, através de sua intercessão, aplaine os nossos caminhos tortuosos, retire as pedras do nosso peito e torne nosso caminho direito, para que sejamos propícios ao Senhor.
São João Batista, rogai por nós.

Sem. Rafael Viana Lima
II ano de Filosofia do Seminário Arquidiocesano de São José

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